Brasília e a música

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Crônica da alma de uma sociedade, a música ajuda a mostrar como evolui o sentimento das pessoas quanto a uma ideia. No caso de Brasília, quanto ao sentimento à ideia de construção de uma cidade.

Nos anos 1960, quando Juscelino Kubitschek lançou a ideia de transferir a capital do país para o Planalto Central, a música muito refletiu a crítica que havia no Rio de Janeiro, antiga capital. Juca Chaves, por exemplo, usou de fina ironia em seu Presidente Bossa Nova, para dizer que JK só fazia "voar da Velhacap pra Brasília, ver a Alvorada e voar de volta ao Rio".

Mas Jackson do Pandeiro já emanava toda a esperança do povo nordestino, maioria dos trabalhadores "candangos" que vieram construir a cidade. "O Brasil está construindo/Mais uma grande cidade/Que antigamente foi sonho/E hoje é realidade".

Consolidada a cidade, sua beleza começou a ser evocada. "Céu de Brasília/Traço do arquiteto/Gosto tanto dela assim", cantou Djavan.

Quando nos anos 1980, a força da arte feita no Planalto Central se espalhou pelo país, o sentimento por Brasília mudou na música. "Dizia ele: Estou indo pra Brasília/Neste país lugar melhor não há", dizia Renato Russo em Faroeste Caboclo, que também, por outro lado, já destacava a violência e a diferença social na periferia da cidade.

Ou, como dizia Oswaldo Montenegro: "Frequento lugares, namoro suas filhas, Brasília/E posso dizer que começo a voar/Sossegado em seu avião/E mesmo com o ar desse jeito tão seco/Consigo cantar no seu chão".

Brasília é música feita de concreto...