Em passos de igualdade
Há pouco mais de uma década, o Brasil começava a dar passos firmes no reconhecimento das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Em 2010, pouco mais de 58 mil lares declaravam-se homoafetivos. Hoje, segundo o Censo 2022 do IBGE, são cerca de 480 mil. Um salto de 727%, que revela muito mais do que estatísticas: mostra um país que, ainda que lentamente, aprende a reconhecer o amor em todas as suas formas.
O dado, por si só, fala de coragem. Cada casal que hoje declara sua união não está apenas preenchendo um questionário; está ocupando um espaço que por muito tempo lhe foi negado — o da cidadania plena. Ainda que o percentual de 0,7% dos lares brasileiros pareça modesto, ele carrega o peso simbólico de séculos de invisibilidade e preconceito.
A presença majoritária de casais formados por mulheres (58%) é outro reflexo da realidade social. Historicamente, as mulheres, em especial as lésbicas, enfrentam camadas adicionais de discriminação, mas também têm sido protagonistas na luta por reconhecimento e visibilidade. A escolha pela união consensual, que representa mais de três quartos dos relacionamentos homoafetivos, pode traduzir tanto a busca por autonomia quanto a desconfiança em relação às instituições que, por tanto tempo, lhes negaram direitos.
Os números do IBGE também ajudam a desconstruir estereótipos: quase metade dos casais homoafetivos se declara católica ou evangélica, e a maioria tem nível médio ou superior de escolaridade. São dados que desafiam a ideia de que orientação sexual e fé, ou diversidade e conservadorismo, habitam mundos distintos. O Brasil real é mais complexo — e, felizmente, mais plural — do que o imaginário de suas intolerâncias.
O mapa da diversidade também tem endereço. Quase metade das uniões homoafetivas está no Sudeste, mas o fenômeno se espalha por todas as regiões, com destaque para o Nordeste, onde 22% dos casais do mesmo sexo vivem. As diferenças raciais seguem a mesma linha da sociedade brasileira: um país multicolorido, em que brancos, pardos e pretos se unem para construir lares que desafiam padrões.