Brasília velha de guerra

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Em um trecho do documentário "Vladimir Carvalho - Cinema e Memória", da jornalista Márcia Zarur, Vladimir, um dos maiores documentaristas da história do cinema brasileiro, faz a sua leitura sobre o que para ele era Brasília.

Vladimir fala, então, sobre o grande privilégio que é acordar e viver em um museu a céu aberto, rodeado das imensas obras de arte erguidas por Oscar Niemeyer. E fala também como é, ao mesmo tempo, viver na cidade que a todo momento ressoa toda a problemática nacional.

Primeiro, porque Brasília reflete fortemente a imensa desigualdade brasileira, com a diferença de padrão entre o Plano Piloto e suas outras regiões. E, segundo, porque é em Brasília que os poderes da República se reúnem. Ora para solucionar essa desigualdade. Ora para mantê-la. Infelizmente, ao longo da história, mais para a segunda hipótese do que para a primeira.

O Brasil, infelizmente, ainda está longe de ter ultrapassado o seu projeto original de exclusão. Projeto que, em muitos de seus filmes, como "O País de São Saruê" e "Conterrâneos Velhos de Guerra", Vladimir tão bem retratou e discutiu.

Nesta quarta-feira (5), fará um ano que Vladimir partiu. Ele não poderá mais nos enriquecer com novos documentários para que discutamos como ultrapassar essa herança brasileira. Mas sua obra, nem por isso, será esquecida ou deixará de ser motivo de reflexão. Nesta quarta, no Cine Brasília, com entrada gratuita, a memória do documentarista será reverenciada. Com a exibição do filme de Márcia Zarur e o relançamento do livro "Vladimir Carvalho", do Coletivo Editorial Maria Cobogó. Uma oportunidade de discutir Brasília e o Brasil.