O cinema brasileiro insiste em resistir. Em meio às telas dominadas por super-heróis estrangeiros, efeitos milionários e narrativas importadas, uma fatia pequena, mas significativa, insiste em se manter viva. Os números mais recentes mostram que, em 2025, 11,2% do público que foi ao cinema escolheu um filme nacional. Parece pouco, mas é muito para quem já chegou a viver com menos da metade disso. A cada ingresso comprado, há um gesto de confiança em histórias contadas daqui, com sotaque próprio, cheios de ruas, casas e personagens que carregam a marca do Brasil real.
A sala escura, que por tanto tempo foi refúgio da imaginação coletiva, quase se perdeu para as pequenas telas luminosas de bolso. Mas ainda há quem queira ver a vida em grande escala, com o som estrondando no peito. E quando esse desejo encontra um filme brasileiro, ele não encontra apenas ficção: encontra um espelho. O drama da periferia, a comédia do cotidiano, o documentário que resiste à memória curta do país.
Esse crescimento não resolve os problemas da indústria, marcada por cortes, disputas políticas e dificuldades de distribuição. Mas é um sopro. Tal como o ipê que floresce no auge da seca, o cinema brasileiro insiste em brotar onde parecia não haver espaço. E, nesse gesto de resistência, há também uma promessa: a de que, mesmo em tempos de aridez cultural, sempre haverá uma tela grande em uma sala escura para lembrar que o país ainda sabe contar a própria história.