Home office e o “novo normal”

Por

Francisco Guarisa*

Atualmente, o que não falta são notícias e pesquisas recentes sobre o tema. Apesar da grande aceitação de que esse modelo de atuação veio para ficar, ainda é nebulosa a visão de equilíbrio, tanto por parte das empresas como dos colaboradores. O fato é que precisamos de tempo, discussões, pesquisas e avaliações para se chegar a um consenso sobre como essa relação se estabelecerá de forma harmônica e produtiva. Para isso, diversas questões precisarão ser exaustivamente analisadas e respondidas nas mais diversas dimensões: psicológica, sociológica, tecnológica, até mesmo, biológica, entre outras.

Pesquisas feitas recentemente por renomadas plataformas e consultorias de recrutamento têm um consenso, entre boa parte dos colaboradores entrevistados, de que o sistema home office agradou à maioria. Em uma das pesquisas, uma parcela significativa dos entrevistados tem o desejo de continuar trabalhando de casa mais vezes por semana, mesmo após a pandemia. Apesar desse consenso, ainda baseado nas entrevistas, os especialistas acreditam que o equilíbrio dessa situação será a adoção de uma forma híbrida de trabalho, envolvendo equipes e escalas específicas. Contudo, ainda falta um entendimento de como equilibrar essas escalas, entre casa e escritório. O tema ainda é novo e estamos vivendo um período de transição, sem ainda nos permitir a análise de dados mais precisos.

Outro ponto a destacar, empresas e colaboradores ainda estão em um momento de adaptação e tendo que conviver com alguns problemas, por ser uma realidade forçada e um modelo de trabalho ainda recente. A interferência mútua entre vida profissional e pessoal, a sensação de trabalho onipresente e sem hora para acabar, além da falta de uma estação de trabalho adequada, são alguns desses problemas, entre outros tantos, que precisarão ser equacionados. Certamente, esta é uma discussão que continuará por um bom tempo e precisará de muito bom senso na busca por soluções equilibradas, que atendam às expectativas de todas as partes.

Se por um lado, diversas pesquisas mostraram, na sua grande maioria, aspectos positivos e um desejo de se prevalecer o home office, por outro, um estudo analisando comentários nas principais redes sociais apresentou uma predominância negativa em relação aos temas mapeados, também passíveis de reflexão. Esse estudo foi conduzido pela Sentimonitor, plataforma de inteligência artificial para extração de insights e big data, que analisou em 15 dias 65 mil postagens no Instagram, Facebook, Youtube e Twitter. A proposta era entender o que as pessoas estavam falando e como estavam se sentindo. As palavras utilizadas na pesquisa foram “teletrabalho”, “home office” e “trabalho remoto”. Como resultado, quase 60% expressaram sentimentos negativos ligados à falta de convívio social, dores diversas ocasionadas por problemas de ergonomia, falta de espaço em casa e o maior barulho gerado, tanto em casa como pelos vizinhos. Tais informações são muito importantes, pois oferecem um outro olhar sobre o tema, pautado em aspectos mais comportamentais e relacionados ao dia a dia das pessoas em um contexto informal.

Independentemente de qualquer pesquisa realizada até o momento, no meu entendimento, o componente econômico será determinante para que este sistema perdure, seja de forma totalmente home office ou híbrida. De acordo com a consultoria americana, Global Workplace Analytics, que através de pesquisas prepara as empresas para o futuro do trabalho, uma empresa mediana pode economizar aprox. US$ 11 mi/ano por colaborador que realiza suas tarefas, pelo menos, 50% em home office e/ou de forma remota. Para o colaborador, essa economia pode variar entre US$ 1,5 mil e US$ 4 mil/ano. Nada mal para quem busca uma recuperação econômica e precisa se alinhar a uma nova realidade, especialmente em relação às questões socioambientais e de governança corporativa. Não custa lembrar que precisamos pensar em formas de vida e de negócios em um contexto mais humano, produtivo e socialmente responsável. Acredito que, nesta direção, uma solução para este tema será a criação de ambientes de trabalho que poderão funcionar como hubs e/ou espaços colaborativos. O fato é que estamos passando por uma primeira pandemia, mas ainda não vivenciamos uma experiência pós-pandemia.

Diante disso, proponho que este artigo seja um convite à reflexão, no sentido de entendermos melhor esse desafio que se apresenta e buscarmos soluções positivas para que haja em breve uma relação melhor entre todas as partes interessadas. Que o virtual e o real possam conviver de forma harmônica por um mundo melhor.

 

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão