Lá vem Lula de novo. Brasil fica para o vice?
Pronto! Lula falou e disse, levado pelos eflúvios asiáticos, lá na Indonésia, sem meias palavras e tirando o véu: será candidato nas eleições presidenciais de 2026. E olha que ninguém perguntou. A declaração encerra meses de especulações sobre seus planos políticos e marca mais uma reviravolta na trajetória do petista, que, antes de assumir o atual mandato, havia afirmado que aquela seria sua última participação na arena eleitoral.
Com 80 anos de idade, Lula garante estar com o "gás dos 30", mas a realidade biológica impõe questionamentos sobre sua capacidade de cumprir integralmente um eventual novo mandato de quatro anos. Nos bastidores de Brasília, a avaliação é de que o presidente já considera a hipótese de, caso eleito, transferir o comando do país ao vice que escolher com esperteza — alguém que represente continuidade política e garanta estabilidade dentro do campo progressista.
Essa mudança de tom de Lula já vinha sendo percebida desde o início do ano. Se antes dizia querer "descansar" após o atual governo, passou a indicar que poderia "talvez, quem sabe" voltar a disputar o Planalto caso fosse necessário para "impedir o retorno da extrema-direita". A leitura é de que o petista enxerga sua candidatura como uma missão política e simbólica diante da polarização que ainda domina o cenário brasileiro.
Sua garantia de continuidade vem num momento em que a direita se encontra cingida, notadamente pelo atropelamento infligido pelo STF contra Bolsonaro, militares e extremistas de todos os matizes. As pesquisas reforçam o otimismo de Lula. No último levantamento da Quaest, divulgado em 9 de outubro, ele lidera todos os cenários de primeiro e segundo turno monitorados. No primeiro turno, suas intenções de voto variam entre 35% e 43%, dependendo dos adversários testados. Seu principal oponente continua sendo o inelegível Jair Bolsonaro (PL), que registra 26%.
Em simulações de segundo turno, Lula aparece com mais de 41% das intenções de voto em todos os cenários, alcançando até 47% quando o adversário é o governador mineiro Romeu Zema (Novo). Mesmo fora da disputa, Bolsonaro segue como o nome mais forte do campo conservador, somando 36% das preferências. Entre os candidatos considerados elegíveis, o melhor posicionado é Ciro Gomes — agora filiado ao PSDB —, que figura com 32% das intenções.
A confirmação da candidatura de Lula reforça sua disposição em continuar como o principal articulador da política nacional. No entanto, a idade avançada e o desafio de manter a vitalidade até o fim de um novo mandato colocam em pauta uma questão inevitável: mais do que o próprio Lula, quem será o vice capaz de sustentar o projeto petista caso o tempo cobre sua fatura?
*Escritor e jornalista