Bolsonaro terá que optar entre centrão e os filhos

O que Bolsonaro não esperava é que a decisão de ambos obrigaria o filho a tomar atitudes cada vez mais radicais que acabariam por levá-lo a entrar em atrito com os caciques do centrão.

Por Tales Faria

Bolsonaro terá que escolher entre os filhos e o Centrão

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), conhecido como o filho Zero-Três do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), colocou o pai em apuros. Mas não o fez sem autorização do próprio ex-presidente.

Quando abandonou o trabalho na Câmara, para o qual foi eleito, e partiu para a campanha aberta nos Estados Unidos por sanções contra o Brasil, Eduardo o fez combinado com o pai.

Em 18 de março, com a condenação do pai praticamente certa no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que se iniciaria no dia 25 daquele mês, Eduardo anunciou em uma nota dura que se licenciaria da Câmara. Passou a se dedicar exclusivamente à campanha para que o presidente dos EUA, Donald Trump, tomasse medidas para pressionar o Brasil a anistiar os envolvidos na tentativa de golpe de Estado.

Sua decisão foi tomada em conjunto com o pai, após saber que não seria indicado pelo PL para presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Eduardo e o pai avaliavam que, como presidente da Comissão, o deputado teria passe livre para ir e voltar aos EUA em encontros visando mobilizar autoridades locais. Sem o cargo, tomaram o que o próprio Eduardo classificou como "a decisão mais difícil de minha vida".

Ambos sabiam que a partir daquele momento, o deputado corria até mesmo o risco de perder o mandato. Risco que corre até hoje. Mas decidiram partir para o tudo ou nada.

O que Bolsonaro não esperava é que a decisão de ambos obrigaria o filho a tomar atitudes cada vez mais radicais que acabariam por levá-lo a entrar em atrito com os caciques do centrão.

O centrão é que deu sustentação a Jair Bolsonaro, ao praticamente assumir o destino do seu governo, em julho de 2021, quando a popularidade do então presidente estava em queda livre. No dia 27 daquele mês, o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), sentou na poderosa cadeira de chefe da Casa Civil, afastando os militares do comando do Palácio do Planalto.

Agora esse mesmo Ciro Nogueira anunciou em entrevista ao programa Canal Livre, no domingo, 12 , que a ofensiva do deputado nos EUA causou um "prejuízo gigantesco" para o projeto político da direita, comprometendo vitórias nas as eleições de 2026, tanto nos estados à Presidência, que estavam "completamente resolvidas".

Eduardo reagiu tornando pública uma denúncia que circulava nos bastidores do centrão: Ciro Nogueira estaria trabalhando para ser candidato a vice em chapa presidencial encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A briga escancarou uma ferida na aliança entre o centrão e o bolsonarismo que já vinha sendo aberta desde que outro filho de Bolsonaro - o Zero-Dois, Carlos Bolsonaro - atacou Tarcísio de Freitas e todos os governadores de direita que vêm se colocando como possíveis candidatos a presidente da República.

Ficou claro que a família Bolsonaro tem planos eleitorais próprios e que não passam por entregar a herança política do pai para o centrão.

A exposição pública desse racha agora vai obrigar o chefe do clã a optar se mantém o plano familiar, ou enquadra os filhos e novamente se entrega ao centrão, como o fez em 2021.

O que se diz no bolsonarismo é que, desta vez, os filhos não aceitarão se entregar ao centrão. A pergunta que fica nos bastidores do bolsonarismo é: como fica a anistia no meio dessa encrenca?