Ingratidão e esquecimento são fatores lamentavelmente presentes na vida pública dos países. E no Brasil não tem sido diferente, sendo que desde que surgiu o debate ideológico nos anos 60 temperados pela intolerância e o ódio. Decididamente não se faz democracia assim.
O ex-presidente Fernando Collor está cumprindo pena por condenação por suposta participação numa estatal que certamente nunca pisou, mas que teria indicado um dos seus diretores. Já respondeu por dezenas de processos e nada foi apurado que justificasse uma condenação. Este caso prosperou e acabou preso, no mesmo país de réus confessos, milhões devolvidos, negócios com nítidas digitais de políticos.
Fernando Collor exerceu funções na vida pública pela vontade popular como deputado, governador e senador por dois mandatos. No seu processo de impedimento, ficou sem direitos políticos, o que não ocorreu com a presidente Dilma, também impedida. Voltou com duas eleições e exercício do mandato com bom convívio entre seus pares.
Tocar no seu caso neste momento faz sentido na medida em que se fala tanto em anistia e ninguém se lembra do ex-presidente que está preso e cuja condenação teve certamente fundamentos jurídicos para acobertar vingança e ódio de inspiração ideológica.
O diferencial dele com os envolvidos na Lava-Jato e agora neste processo envolvendo política é que o Brasil deve muito a gestão de Fernando Collor na Presidência da República. Não se pode esquecer os avanços que promoveu e que seus opositores, que passaram a dominar a cena política desde então, não tiveram a coragem de interromper. Ou, no caso dos governos petistas, suspenderam, mas não anularam os rumos liberais da economia que tanto tem feito pelo Brasil nos últimos 50 anos.
Como negar ter acabado com títulos ao portador, regularizando o mercado de capitais diante do fisco, que provocou avanços tecnológicos na indústria nacional, em especial a automobilística, que passou a ter presença em outros mercados, as privatizações, que, ao longo destas décadas, pouparam o erário prejuízos pela má gestão ou deslavada corrupção? Cada vez fica mais claro que a mobilização que o levou à perda do mandato por uma compra mal explicada de um modesto automóvel tenha tido inspiração ideológica com o consentimento de uma burguesia moralista e alienada. Afinal, o ex-presidente nasceu em família rica, pois seu o avô Lindolfo foi ilustre ministro de Vargas, o pai foi empresário de destaque no Rio e em Alagoas. Poderia, no máximo, ter sido imprudente no seu grupo mais íntimo, mas cujos benefícios eventuais não modificaram o seu viver. Bem diferente de outros políticos e seus familiares envolvidos em questões financeiras de propinas, imóveis, "rachadinhas" e outros malfeitos.
Uma anistia política, para ser justa, deveria incluir o ex-presidente a quem os brasileiros lúcidos não podem deixar de ter uma dívida de gratidão. Pode ter errado, mas o saldo parece ser muito positivo em termos de serviços prestados ao Brasil.