Enquanto a América Latina ainda luta para articular políticas concretas de segurança viária, o Brasil se destaca como o único país da região a contar com um plano nacional estruturado para reduzir mortes e lesões no trânsito: o Pnatrans. Criado em 2018 e revisado em 2023, o documento sinaliza um avanço importante na forma como o país encara um problema de saúde pública que, silenciosamente, mata milhares de brasileiros todos os anos.
No entanto, mesmo com sua importância, o Pnatrans ainda é pouco conhecido, tanto por gestores públicos quanto pela população em geral. É justamente esse o maior paradoxo da proposta: temos um plano com potencial de salvar 86 mil vidas até 2030, mas seguimos falhando em torná-lo visível, compreendido e, sobretudo, aplicado.
Como destacou Maria Alice, diretora do Departamento de Segurança no Trânsito da Senatran, o Pnatrans é uma política de Estado, não de governo. Ou seja, sua eficácia independe de mandatos ou preferências partidárias. É um pacto nacional que deveria estar acima de disputas políticas, e que exige compromisso contínuo de União, estados e municípios. A responsabilidade é compartilhada e não há outro caminho possível quando se trata de um sistema tão complexo e interdependente como o trânsito.
A revisão de 2023 buscou justamente tornar o plano mais acessível e aplicável. Hoje, o documento apresenta 70 ações práticas, alinhadas à Nova Década de Segurança no Trânsito da ONU (2021-2030), com foco em gestão integrada, prevenção de acidentes, educação, fiscalização e melhoria da infraestrutura. O que falta, agora, é vontade política e mobilização técnica para tirá-lo do papel.