Por: Tales Faria

Lula se antecipou no NYT às sanções que já espera de Trump

Lula e Trump | Foto: Ricardo Stuckert/Andrea Hanks-White House

O governo já previa, desde o início da semana passada, uma reação dos EUA à condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dos envolvidos no golpe de Estado chefiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse nesta segunda-feira, 15, que anunciará nos próximos dias medidas em resposta à condenação, mas não deixou claro quais seriam essas medidas.

O julgamento no Brasil começou no dia 2, e terminou na quinta-feira, 11. Já na terça-feira, 9, quando o relator, ministro Alexandre de Moraes, apresentou seu parecer pela condenação dos réus, não havia mais dúvidas no Palácio do Planalto de que Bolsonaro e os demais integrantes do chamado "núcleo crucial" seriam condenados.

Com a certeza da condenação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a avaliar com seu assessor internacional, o ex-ministro Celso Amorim; o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o chefe da Casa Civil, Rui Costa; e o ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, se haveria reação do governo dos EUA, e qual a estratégia a ser adotada pelo país.

A conclusão foi de que a reação dos EUA é inevitável. Mas é impossível prever o que o presidente norte-americano fará. No entanto, o Brasil não poderia ficar inerte.

Foi aí que veio a ideia de um artigo que funcionasse como uma carta aberta a Donald Trump. O artigo deveria ter linguagem moderada, com a mensagem de que o Brasil está aberto à negociação. Mas, ao mesmo tempo, reafirmar que o país é uma democracia e que a nossa soberania não é negociável.

Esse recado veio já no título: "A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis". A ideia é usar o artigo como uma defesa do STF e blindagem contra a reação do governo dos EUA. Por isso citou:

"Não se tratou de uma caça às bruxas. O julgamento foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira [...], após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do STF."

O texto também mostrou que as justificativas de Trump para o tarifaço não se assentam, tecnicamente, sobre a realidade do comércio entre os dois países.

A ideia de publicar artigo também foi uma resposta velada à forma como chegou ao Brasil, em 9 de julho, a carta de Trump com o tarifaço de 50% imposto contra os produtos brasileiros. A carta de Trump foi divulgada por um "vazamento" armado na mídia trumpista norte-americana.

Lula, resolveu não "vazar", mas divulgar o artigo como carta aberta publicada no jornal mais importante dos EUA, o "New York Times".

O texto básico foi feito pela equipe comandada pelo ghost-writer dos discursos de Lula, o escritor mineiro José Rezende Junior. Passou por várias mãos, como sempre nesses casos, especialmente de Celso Amorim e Sidônio Palmeira.

O tom moderado de toda a "carta" apareceu já nas primeiras linhas:

"Decidi escrever este ensaio para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos. [...] A recuperação dos empregos americanos e a reindustrialização são motivações legítimas."

E foi até o final: "É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos."

O Planalto considera um sucesso a repercussão. Agora é esperar a reação de Trump.