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O abismo digital que separa o Brasil

Ainda nos deparamos com um Brasil dividido entre os conectados e os desconectados. A recente pesquisa da Anatel em parceria com o Instituto de Defesa do Consumidor escancara uma dura realidade: o acesso à internet de qualidade, elemento hoje fundamental para a cidadania plena, ainda é um privilégio de poucos. E não deveria ser. Os dados revelam que mais de um terço da população de baixa renda (35% entre os que ganham até 1 salário mínimo e 35,6% entre os que recebem entre 1 e 3 salários mínimos) ficou sete dias ou mais sem acesso à internet móvel nos 30 dias anteriores ao levantamento. Para quem sobrevive com menos, o tempo sem conexão chega a ser duas vezes maior. Isso não é apenas um dado técnico: é um retrato da exclusão social digitalizada.

Estar sem internet significa mais do que estar fora das redes sociais. Significa ficar sem estudar, sem acessar serviços públicos, sem realizar operações bancárias e sem buscar atendimento de saúde, como relatam mais da metade dos brasileiros afetados pela falta de dados móveis. A exclusão digital é, hoje, uma nova forma de exclusão social. E como toda desigualdade, ela tende a se perpetuar se não for enfrentada com políticas públicas claras, firmes e inclusivas.

O estudo também mostra que a barreira econômica ainda dita o tipo de acesso digital no país. Enquanto mais da metade dos brasileiros com renda de até um salário mínimo compram celulares abaixo de R$ 1.000, as faixas mais ricas têm acesso a dispositivos mais modernos e com maior capacidade. Tudo isso escancara uma verdade incômoda: sem internet de qualidade, não há desenvolvimento sustentável, nem equidade social possível.