Brasília: cidade de quem?
A Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (PDAD-A) de 2024 mostrou que residem no Quadradinho cerca de 2,9 milhões de pessoas. Já na região metropolitana de Brasília, que envolve também 11 municípios goianos, moram mais de 4,2 milhões.
A capital federal, ainda hoje, é um tema controverso no país. Alguns a elogiam pela arquitetura e outros a detestam por inúmeros motivos relacionados à política. Basta uma curta olhada no X (antigo Twitter) para ver que esse segundo grupo gosta muito de manifestar sua insatisfação com a maior cidade planejada do século 20.
Se alguém de fora do DF criticar a cidade para um morador daqui, é provável que este o defenda — principalmente se residir no Plano Piloto, onde Brasília realmente se localiza. Agora, se a crítica for feita a um cidadão que habita as regiões administrativas ou nos municípios do entorno goiano, pode ser que a defesa não seja tão ferrenha assim.
O que explica essa diferença de posicionamento? As áreas residenciais do Plano foram as mais planejadas do Quadradinho. Arborizadas, com grandes espaços de lazer e praças de convivência. Bem localizadas e não deixam a desejar quanto a serviços, comércio e as mais diversas opções de divertimento (sejam pagas ou gratuitas). Têm tudo ali, pertinho. Isso sem considerar a tranquilidade, visto que os ambientes caóticos e de maior movimento estão setorizados para não prejudicar a experiência de morar na Capital Federal.
Mas quantos brasilienses moram no Plano? Bom, segundo a mesma PDAD-A, pouco mais de 207 mil, o que totaliza 7,14% dos habitantes do DF — uma porcentagem que cai para 4,3% se comparada ao total da região metropolitana da capital. E, para quem não mora ali, o que sobra?
Segundo a mesma pesquisa, e com dados analisados na coluna Brasilianas do Correio da Manhã, a parcela de moradores das regiões administrativas que trabalha no Plano caiu de 40,7% em 2021 para 34,4% em 2024. Esse valor ainda representa pouco mais de 1 milhão de pessoas.
1 milhão de pessoas que percorrem até 35 quilômetros diariamente para trabalhar. Enfrentando longos engarrafamentos de carro ou lidando com a lotação do transporte público. 1 milhão de pessoas que saem de casa, muitas vezes, de madrugada e retornam apenas ao fim do dia — quando não tarde da noite.
O planejamento que se tem no Plano não parece estar presente nas outras regiões, que pouco dispõem de infraestrutura pública para lazer, mobilidade urbana e, quiçá, planejamento para arborização. Acho que eu também não defenderia a Capital assim, não ao menos, se este cenário não mudar. Por isso, pergunto: Brasília, cidade de quem?