O dinheiro tem medo

Por Aristóteles Drummond

Consultoria internacional comentou o andamento da fuga de capitais da América Latina em direção a países mais seguros. A informação foi publicada na Bloomberg Economia.

As referências são cerca de 1600 transferências de domicílio fiscal este ano de pessoas com mais de um milhão de dólares, perfazendo um total de oito bilhões e setecentos milhões de dólares. São 1200 brasileiros, 150 colombianos, 150 mexicanos e cem de outros países.

Até agora os motivos estavam relacionados a aposentados ou pessoas que teriam vendido seus negócios e foram morar no exterior ou mulheres divorciadas que receberam parte do acordo fora do país. Este ano a motivação tem sido mais proteção contra controle e ameaça de tributação de recursos já declarados e constituídos por ganhos tributados.

O receio de uma ação política confiscatória se baseia nas declarações reiteradas do ministro Fernando Haddad e do próprio presidente Lula da Silva no sentido de tributar os mais ricos, de promover distribuição de renda pelas isenções de impostos, de contas de luz, de gás e projetos sociais permanentes, que desestimulam a busca por emprego.

Esse clima hostil ao empreendedor é responsável pelo baixo investimento nos pequenos e médios negócios no país. O medo leva à postura mais cautelosa e a proteger o que se ganhou ao longo da vida ou foi herdado dos esforços de gerações anteriores. Muita gente simples, do interior, mas com recursos apreciáveis, busca morar fora procurando segurança pessoal, familiar, patrimonial e financeira. Estima-se que, nos dois últimos anos, o Centro-Oeste representou um quarto das transferências de domicílio fiscal de herdeiros de agronegócio.

A movimentação dos bancos na oferta de depósitos e aplicações fora do país tem sido enorme. Instituições como Bradesco e Banco do Brasil, plataformas internacionais como a do Itaú, adquirindo bancos nos EUA e os digitais oferecendo aplicações em diferentes moedas, atestam o interesse em buscar proteção fora do Brasil de investidores e poupadores.

O Brasil precisa atrair investimentos na indústria, no comércio, nos serviços para gerar renda e empregos de qualidade. Mas, se não retém o investidor brasileiro, como vai conseguir os de fora?

Todos devem meditar sobre esta realidade, especialmente quando são muitos os países que oferecem vantagens ao dinheiro que venha de fora, a começar pelos EUA.

Inacreditável um país com o nosso potencial só faltar agredir o investidor em ativos produtivos. Quem mantém dinheiro aqui fica na renda fixa e não no setor produtivo.

Uma pena!