Ex-diretor do BC 'detona' meta federal
A expectativa de que o crescimento sustentável da economia, em torno de 3% ao ano, poderia ocorrer de forma indefinida, aparentemente 'ignorando' sequelas previsíveis como a escalada da inflação ou agravamento das contas externas, é um erro. A crítica do economista e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e colunista do Estadão, Alexandre Schwartsman foi disparada na direção do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao abordar as perspectivas da atividade no curto e médio prazos.
"Tal afirmação está errada, provavelmente porque o ministro não entende o significado de crescimento sustentável, ou, como se diz no jargão, 'potencial'", completou.
Embora reconheça que a economia nacional cresceu, em média, 3,2%, nos últimos três anos, Schwartsman argumenta que, "para este ritmo ser considerado sustentável, não poderia reduzir o grau de ociosidade da economia de forma persistente. A mera inspeção dos indicadores sugere não ser este o caso".
Para ilustrar sua avaliação, na contramão do Executivo, o ex-diretor do BC explicou que a despeito da queda - de 13,5% para 6,9% do desemprego na força de trabalho tupiniquim, entre 2021 e 2024 - também houve avanço significativo, de 79,4% para 82,1%, da utilização da capacidade instalada na indústria, apontam dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Em ambos os casos, as medidas sugerem que o crescimento se deu pela ocupação de recursos que se encontravam ociosos na saída da pandemia, mas "cedo ou tarde a ociosidade desaparece, com aceleração da inflação e do déficit externo".
Para o ex-diretor da autoridade monetária, enquanto o 'núcleo da inflação' - que exclui do cálculo do IPCA, fatores sazonais - saltou de 3,5% para 4,9%, de junho de 2024 a abril deste ano - o déficit externo do país subiu de 1,1% do PIB para 3,2% do PIB, entre março de 2024 e igual mês de 2025. Nesse intervalo, diz ele, a capacidade ociosa da economia teria se esgotado.
Por fim, Schwartsman esclarece: "Vale dizer, nosso crescimento potencial é bem mais baixo do que supõe o ministro, e sua política de impulsionar a demanda pelo aumento do consumo e do gasto público apenas deixou esta vulnerabilidade mais clara".