'Capenga'. Assim deverá chegar a economia brasileira, ao cabo de 2026, sobretudo pela pressão exercida pela inflação de serviços, observa o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), Samuel Pessôa, ao participar do TAG Summit 2025, em São Paulo.
Ao salientar não ter condições de prever o que ocorrerá com a chamada 'inflação cheia' - pois esta, segundo ele, continuará sendo 'influenciada' pela guerra comercial travada pelos EUA com o resto do mundo - Pessôa assinalou: "O que vai acontecer com a inflação total, eu não sei direito, porque tem esse choque agora da guerra. Podem haver surpresas positivas na inflação até o final do ano, mas o mercado de trabalho continuará pressionado e com a inflação de serviços alta".
Como o país deverá chegar, ao final do próximo ano, exibindo uma inflação de serviços elevada, o setor privado continuará pressionado, até porque, continua o chefe do Ibre/FGV, o governo seguirá estimulando o consumo, por meio de medidas nas áreas sociais, assim como pela criação de novos mecanismos de concessão de crédito. Como resultado, ele projeta um custo de demanda de 0,5% no fim deste ano e de mais 0,5%, no próximo.
Coerente com o perfil perdulário federal, Pessôa admite que o Planalto poderá 'abocanhar' em torno de R$ 15 bilhões do Fundo Soberano, para injetar tal soma na faixa 3 do programa habitacional assistencialista 'Minha Casa, Minha Vida'. Na sua visão, o governo está empenhado em 'sustentar' o consumo. Dentro dessa lógica, com a inflação pressionada, não restará outra alternativa ao Banco Central (BC), a não ser manter elevados os juros básicos (Selic), prestes a atingir o patamar de 14,75% ao ano, vaticinam analistas de mercado.
Estabelecida essa perspectiva, a conclusão de Pessôa é realista. "Ou seja, a gente vai chegar ao final do ano que vem capengando e com um setor privado machucado. Então, dá um medo de uma regressão. Agora, a gente tem vários exemplos nos últimos 20 anos de governos que produziram inflação, desorganização macroeconômica, muito penalizado pela democracia, inclusive".