O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste ano foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil". No dia seguinte, um deputado distrital acusou uma escola pública da capital federal de realizar "rituais de magia em sala de aula" porque a instituição de ensino promoveu uma aula sobre História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.
A velocidade da contrariedade dos discursos parece uma piada de mau gosto já pronta. O parlamentar, um dos representantes do Distrito Federal, acusou a escola de "fazer as crianças citarem nomes de seus deuses", alegando que isso fere a "defesa do princípio da laicidade do Estado". Porém, esse mesmo discurso não se aplica quando se tratam de escolas que tem pedagogias cristãs, que ensinam sobre a religião cristã.
O artigo 26-A da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, determina que "Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira". Porém, na prática, a situação não se replica.
Resumir a história e cultura afro-brasileira a exemplos rasos de exemplos religiosos é o mesmo que tratar pessoas de religiões de descendência africana, como umbanda e candomblé, a "macumbeiros" no tom mais pejorativo possível. É condenar o que não conhece, é achar que o seu é melhor, é ignorância que ataca. E vindo de religiões com origens da África e com muitas pessoas negras praticantes, se trata de racismo mascarado de intolerância religiosa.
Uma série de comédia que fez sucesso no Brasil, "Todo Mundo Odeia o Cris", conhecemos uma personagem que é professora do protagonista, um jovem negro.
Senhorita Morello é uma personagem que diz falas preconceituosas mascaradas com um doce sorriso no rosto para fazer o telespectador se sentir desconfortável tal como o protagonista. No Brasil, há muitas Senhoritas Morello, muitas vezes são políticos.