Em tempos em que o conservadorismo avança e tenta silenciar vozes dissidentes, eventos como o Festival de Memória LGBT no Cine Brasília surgem como uma poderosa plataforma de resposta. Mais do que um evento cultural, ele se torna um ato político, um grito pela preservação de uma memória que, muitas vezes, foi apagada ou marginalizada ao longo da história do Brasil e, mais especificamente, da capital federal.
O festival, que reúne filmes, debates e apresentações musicais, é uma oportunidade de resgatar as vivências e lutas da comunidade LGBTQIA ao longo de décadas. A proposta de Bruna Penha, antropóloga e idealizadora do evento, de trabalhar com temas de três diferentes décadas (1970, 1980 e 1990) não é apenas uma escolha estética ou cronológica, mas uma forma de conectar gerações, mostrando que a luta por direitos, representatividade e respeito é contínua e multifacetada.
Os filmes exibidos, como o documentário Meu Amigo Claudia e Ferro's Bar, são testemunhos de uma resistência cultural que ultrapassa os limites da arte. São narrativas que desafiam o status quo, revelando uma sociedade que, embora cheia de avanços, muitas vezes ignora ou relega à invisibilidade as vidas que construíram o cenário LGBTQIA no Brasil.
Além disso, o festival vai além das telas e dos palcos. As mesas de debates, com nomes de peso em Brasília, como Ruth Venceremos e a gestora pública Ludmylla Santiago, abordam questões essenciais, como políticas públicas para a comunidade, revelando que a memória não é apenas um registro do passado, mas um caminho para o futuro. As histórias, as trajetórias e as conquistas dos ativistas que pavimentaram essa estrada merecem ser valorizadas e lembradas como inspiração para as próximas gerações.
Em um cenário político onde se discutem retrocessos nos direitos civis dessa população, é fundamental que espaços como o Festival de Memória LGBTQIA existam e floresçam. Eles nos lembram que a luta pela igualdade e pelo reconhecimento das diferenças é uma batalha diária, que exige não apenas coragem, mas também a preservação da história de quem já lutou antes de nós. O projeto acontece de forma gratuita até o próximo domingo (20).