Onde está o céu azul de Brasília?
Moradores de Brasília que vivem na cidade há bastante tempo frequentemente comentam sobre a secura extrema que caracteriza o clima local como um dos maiores desafios da vida na capital. Contudo, o que nunca foi mencionado é como essa baixa umidade se tornou tão intensa que agora é quase palpável no ar, visível através da densa névoa de fumaça que tem transformado o horizonte da cidade em um emaranhado cinza e abafado. Estamos no segundo dia em que o fenômeno se instaurou e, sem sinal de chuvas a caminho, a sensação é que estamos vivendo em uma daquelas distopias da literatura.
Na manhã da última segunda-feira (26), a região foi novamente surpreendida por um céu encoberto. Esse cenário, que se repetiu após o ocorrido no domingo (25), é um sintoma de um problema mais amplo que não pode ser ignorado: as queimadas em várias regiões do país, associadas às condições climáticas adversas, estão prejudicando a qualidade do ar em nossas cidades.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a fumaça visível em Brasília é resultado da combinação entre focos de queimadas nas áreas vizinhas e a seca que afeta Brasília nesta época do ano. A meteorologista Andrea Ramos alertou que a fumaça deve persistir nos próximos dias, devido à baixa umidade, variações de temperatura e ventos que transportam poluição de estados como São Paulo, Goiás e da Amazônia.
É impossível não pensar como esse cenário serve como um alerta para todos nós. O céu cinzento e a qualidade do ar comprometida são reflexos de políticas ambientais inadequadas e da falta de compromisso com a proteção dos biomas. A Amazônia, o Cerrado e outras regiões ecologicamente importantes estão sendo devastados por queimadas, muitas vezes impulsionadas pela expansão agrícola irresponsável e pela ausência de fiscalização eficaz.
Enquanto o Inmet prevê a continuidade da fumaça sobre a capital, com a umidade do ar variando perigosamente entre 95% e 20%, é necessário que a sociedade se pergunte até quando aceitará essa situação. A capital federal, como símbolo do poder político do país, não pode permanecer refém de problemas ambientais que, embora tenham origens distantes, afetam diretamente a saúde e o bem-estar de seus habitantes.
É urgente que o governo e as autoridades ambientais adotem medidas eficazes para combater as queimadas e proteger nossas florestas. Não podemos permitir que a fumaça que sufoca o Distrito Federal seja um sinal de um problema ainda mais grave, com impactos irreversíveis para o meio ambiente e para a população.
O céu antes tão azul e bonito, agora cinzento de Brasília, não é apenas uma questão meteorológica; é um reflexo de uma crise ambiental que exige ação imediata. Precisamos de políticas públicas robustas, fiscalização rigorosa e, acima de tudo, um compromisso real com a preservação do nosso patrimônio natural. O tempo de agir é agora, antes que a fumaça se torne uma condição permanente.
