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Proposta ousada. Mas necessária

O senador Ireneu Orth (PP-RS) surpreendeu com a proposta de usar os R$ 2,2 bilhões do Fundo Eleitoral para prestação de auxílio aos atingidos pelo forte temporal em diversos municípios do Rio Grande do Sul, incluindo a capital Porto Alegre. O parlamentar argumenta que o total de R$ 4,9 bilhões de reais que o Congresso resevou para o financiamento das eleições municipais, excede em exatamente R$ 2,2 bilhões de reais a correção do fundo de 2020 pela inflação. A ideia objetivamente é usar o dinheiro destinado para as campanhas eleitorais de outubro. E podemos considerá-la oportuna, nota-se o sofrimento da popopulação gaúcha com os efeitos dos desastres climáticos. No entanto, olhando para o nosso histórico de projetos e iniciativas com teor semelhante, especialmente quando se trata do orçamento e de valores que beneficirão campanhas eleitorais, dificilmente o quadro se reverte. Não se trata de pessimismo, mas de uma constatação.

Em junho, serão iniciadas as convenções municipais que ratificarão nomes de candidatos às prefeituras e câmaras por todo o país. Embora a comoção com toda a tragédia no Sul seja latente, toda a expectativa da classe política está concentrada em uma coisa: o pleito de outubro! É louvável a iniciativa do senador, mas tentar mexer com o dinheiro de financiamento de campanhas, aparenta ser um voo solo, ou com pouquíssimos tripulantes. Caso a proposta passe, será algo surpreendente, faltando poucos meses para o ínicio das campanhas. É visível a dor e sofrimento de tantos que perderam não apenas bens materias, mas entes queridos com o impacto das chuvas. Seria extraordinário que um projeto dessa magnitude tivesse viabilidade. Mas não podemos ser inocentes, conhecendo os meandros do poder que, em muitos casos, lamenta a tragédia e emite notas de solidariedade. Mas que se tratando da retirada de recursos volumosos para abastecer campanhas, não há menor possibilidade de chance.

Os cidadãos gaúchos e de todo o país admiram atitudes nobres, de milhares de abnegados brasileiros que colaboram neste momento com doações imprescindíveis. Os que se encontram nos espaços privilegiados do poder, bem que poderiam ter iniciativas tão nobres quanto. Quem sabe, nos causando espécie em abrir mão do montante eleitoral que irão usufruir.