Por: Arnaldo Niskier*

O pai do Menino Maluquinho

Personagem mais popular de Ziraldo, o Menino Maluquinho virou estátua de dez metros na cidade de onde Ziraldo saiu para ganhar o mundo com seu traço | Foto: Caratinga.net

Ziraldo Alves Pinto chegou ao Rio, jovem ainda, e não tinha o que fazer. Foi à Manchete Esportiva, que então dava os seus primeiros passos, recorreu a Augusto Rodrigues em busca de um emprego. Conseguiu ser admitido para assistente de paginação da nova revista, para secundar o artista argentino Ricardo Parpagnoli. Fez sucesso nas novas funções.

Depois, a sua veia artística aflorou mais ainda. Nasceu o Flicts, na Editora Primor, dos irmãos Sérgio e Simão Waisman. Dali ao bem sucedido “Menino Maluquinho” foi um passo. E o sucesso internacional.
Nascido em Minas Gerais, que nunca esqueceu, Ziraldo foi um bem sucedido autor de livros infantis. E premiadíssimo.

Desenhista desde os 6 anos de idade, criador da Turma do Pererê e de O Pasquim, Ziraldo faleceu aos 91 anos de idade, no Rio de Janeiro. Tinha uma exposição no Centro Cultural do Rio de janeiro (do Banco do Brasil) que em seu primeiro mês recebeu mais de 50 mil espectadores. Um artista completo, inclusive como cartunista.

Era dono de um permanente bom-humor. De uma feita, lembra a minha mulher Ruth, estávamos em Nova Iorque, para participar de um Congresso de Literatura Infantil. Era na década de 70. Uma noite, depois das conferências, fomos jantar num restaurante famoso. De repente, entra Ziraldo, com a sua habitual euforia, e um cheque de 100 dólares colado na testa. Foi o primeiro pagamento que recebeu por uma colaboração externa. Fez questão de comemorar com os seus conterrâneos. Foi uma alegria geral.

Nos idos de 64, Ziraldo já havia escrito mais de 100 livros, sempre defendendo a liberdade de expressão. Isso revoltou as autoridades militares da época e ele foi preso três vezes, naturalmente diante de uma revolta generalizada.

Ziraldo confessou que teve inspiração no Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, e assim criou o Bichinho da Maçã, um divertido livrinho de anedotas. E em “Menina Nina” homenageou a sua esposa Vilma, que tive também o privilégio de conhecer pessoalmente. A obra é de 2002.

*Escritor. Membro da Academia Brasileira de Letras