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As faces da intolerância através de números

Que o racismo e a intolerância religiosa estão entranhadas na sociedade brasileira, não há sombra de dúvida. Há os que negam por desconhecimento histórico ou simplesmente por conveniências infames, inferiorizando a gravidade de fatos concretos, que corroboram para a escalada da violência contra as religiões, especialmente as de matriz africana. Mas, contra fatos não existem argumentos. Sobretudo quando esses fatos são respaldados por dados, constatando o crescimento significativo da intolerância, em suas mais diferentes facetas.

No ano de 2023, as delegacias do Estado do Rio de Janeiro, registraram cerca de 3 mil crimes que podem estar diretamente associados aos crimes de intolerância religiosa. Entre os crimes, registros de 2.021 vítimas de injúria por preconceito, e outras 890 por preconceito de raça, cor, religião, etnia e procedência nacional. Os números fazem parte de um levantamento inédito realizado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

Os números do ISP também constatam que apenas 34 vítimas de ultraje à culto religioso procuraram uma delegacia para registrar a ocorrência no estado do Rio de Janeiro, no ano passado.

De acordo com o ISP, a tipificação criminal é definida pela ridicularização pública, pelo impedimento ou pela perturbarção de culto e cerimônia religiosa. Segundo os registros, as mulheres negras são a maioria das vítimas dos casos, com a concentração na zona oeste da capital fluminense, sem deixar de mencionar os municípios da Baixada Fluminense e das regiões Norte e Lagos, que também sentem o impacto da desenfreada intolerância.

A educação continua sendo a melhor forma de combater às discriminações. No entanto, a ampliação de delegacias especializadas, com a devida preparação do corpo técnico para saber tipificar os crimes de intolerância, também é de fundamental importância.

O fundamentalismo religioso doentio, propagado por determinadas lideranças neopentecostais, que propagam que a religião do outro é de essência ''demoníaca'', precisa ser combatido. A exceção está nas lideranças sérias, que exercem o sacerdócio de forma exemplar e com respeito às diferenças.

Aqui, falamos de Rio. Mas em cada canto deste país com dimensões continentais, as faces da intolerância geram impactos nocivos no que tange ao exercício legítimo da fé.