Por: Jorge Jaber*

Ações pela saúde mental

Estatísticas indicam que cerca de 70% dos acometidos por transtornos mentais apresentam algum tipo de adicção. | Foto: Unsplash

"Um objeto em repouso permanecerá em repouso, e um objeto em movimento continuará em movimento com velocidade constante, a menos que uma força externa atue sobre ele". Fascinante em sua simplicidade, a Primeira Lei de Newton extrapola o campo da Física: os seres humanos, das relações pessoais à ideologia política, dos hábitos alimentares à postura no trabalho, têm certa aversão a mudanças, ainda que claramente positivas, num comportamento que impacta todos os aspectos de nossa vida.

A própria história da evolução científica mostra esta inércia. Descobertas amplamente comprovadas nem sempre têm aplicação imediata na vida cotidiana, privando a sociedade, às vezes por longos anos, de grandes benefícios. No Brasil - em vários países, na verdade -, temos um bom exemplo na relativa carência, tanto na rede pública quanto na privada, do atendimento integrado aos portadores da patologia dual: casos em que a dependência química e transtornos mentais ocorrem simultaneamente.

O reconhecimento da adicção como distúrbio mental, registrado formalmente há mais de 40 anos, deixou claro o vínculo entre problemas como depressão e ansiedade e outras condições médicas, e a necessidade um tratamento multidisciplinar para estas situações. Esta consciência, no entanto, não se refletiu na oferta de um atendimento integrado, que aborde o paciente como um todo e encare a dependência como uma doença a ser tratada.

Estatísticas indicam que cerca de 70% dos acometidos por transtornos mentais apresentam algum tipo de adicção. Com tratamentos que combatam de forma isolada os dois ou até mais distúrbios, estas pessoas dificilmente se recuperarão, com os desoladores efeitos que conhecemos tão bem. Num cenário econômico, político e até ambiental conturbado como o que vivemos, repensar a rede de atendimento dentro deste conceito mais abrangente aos portadores da patologia dual é uma tarefa urgente de todos, autoridades ou sociedade civil, preocupados com a saúde física e mental da população brasileira.

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio

 

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