Boris Fausto e a história do Brasil
Na semana em que se celebra a chegada dos portugueses no Brasil, o termo "Descobrimento", ao meu ver, não é muito usual para esta ocasião, e explicarei isso ao longo do texto, perdemos um dos grandes pensadores que, justamente, contribuiu bastante para a historiografia nacional: Boris Fausto.
Suas obras ficaram mais concentradas na década de 30, tendo como destaque "A Revolução de 1930: Historiografia e História", onde faz um trabalho bem consistente e esmiuçado sobre como foi o movimento e o início da Era Vargas no país. Por sinal, Vargas também é outro personagem presente em seus ensaios, com bastante ênfase na primeira parte de seu governo.
Duas obras pouco difundidas, mas que contribuíram muito para a historiografia foram "História do Brasil", um resumo completo da formação da nação tupiniquim, rendendo a ele o prêmio Jabuti de 1995, e "História Concisa do Brasil", que o próprio título já diz como é o trabalho de pesquisa. Alías, pesquisa era seu codinome, pois, além da historiografia, Boris Fausto também foi cientista político e fez obras sobre os movimentos operários e sindicalistas. Em 1998, ele ganha outro por "Negócios e Ócios", onde retrata a história pessoal e familiar em São Paulo, cidade e estado presente em outros clássicos, como "O Crime do Restaurante Chinês", também baseado em fatos da década de 1930.
Se Fausto escreveu "História do Brasil", certamente 22 de abril de 1500 está presente. Por isso, essa mistura para homenagear este grande mestre da historiografia nacional e detalhar motivos pelos quais o termo "Descobrimento" não é muito bem quisto por mim. Primeiramente, o Tratado de Tordesilhas, em 1494, já demonstrava que Portugal sabia ou tinha noção de que havia terras além das descobertas por Colombo em 1492. Ademais, relatos de navegadores nas viagens pelo Périplo Africano suspeitavam de terras além do Atlântico, mas eles não se aprofundaram no tema.
O termo "descobrimento" pode ser para da destaque em algo novo. Todavia, diante dos relatos anteriores à chegada de Pedro Alvares Cabral no Brasil, nome dado em virtude do Pau-Brasil, as palavras "conquista" ou "tomada de território" podem ser mais bem vistas neste aspecto.
De qualquer forma, 22 de abril de 1500 entrou para a história como a primeira vez em que uma esquadra portuguesa adentrou em áreas marítimas tupiniquins e iniciou sua operação para dominar os povos nativos e o pedaço de terra por eles adquiridos. Por isso a data venha ser emblemática, mas não muito difundida para muitos, ainda mais por completar 523 anos em 2023, ano em que não é considerado redondo para a historiografia — apenas datas com finais zero (0) e cinco (5).
*Historiador e jornalista
