Zico marcou comigo às 15 horas no saguão do hotel. Era maio de 2017, e ele viria a Brasília para uma palestra na noite daquele dia. Imaginei, antes de acertar os detalhes da entrevista, que Zico a recusaria para descansar e se preparar para o evento de logo mais. Que nada, o Galinho de Quintino topou de pronto falar comigo para a biografia que eu preparava sobre um importante nome do futebol brasileiro.
Cheguei ao hotel na hora combinada. Zico já estava lá, sentado numa mesa com pés em falso, acompanhado apenas de uma xícara de café e uma garrafa de água. Escolado na profissão, estava acostumado ao tête-à-tête com estrelas graúdas do universo artístico e esportivo. Não fazia um mês, por exemplo, eu fora à casa de Paolo Maldini, em Milão, para uma entrevista e nada de diferente senti. Mas com o Zico, ao me aproximar, as pernas se enfraqueceram e a barriga gelou. Não, não sou flamenguista. Mas, sim, sou "ziquista".
Talvez ele tenha percebido meu nervosismo ao cumprimentá-lo e, por isso, tratou de inverter os papéis, tornando-se o repórter naquele instante do primeiro contato. Quis saber se eu era de Brasília mesmo. À resposta afirmativa, retrucou dizendo adorar a cidade e ter saudades do seu tempo de morador da Capital, quando compôs o primeiro escalão do governo Collor.
Por uns cinco minutos, o homem de Quintino descarregou elogios a Brasília. Depois, ficamos mais uma hora e meia conversando sobre o meu biografado. Por ele, que repetidas vezes me advertiu para não se preocupar com o relógio, ficaríamos mais. Porém já se aproximava das 17 horas, e eu me inquietava por seu compromisso das 19 horas.
Este monumento de uma nação completou 70 anos há poucos dias. Que ainda viva muito, o Zico, para seguir nos ensinando sobre simplicidade, paciência, solicitude, delicadeza e amor por Brasília.
*Jornalista.