Por: Rodrigo Bethlem*

Lula precisa controlar a verborragia

Lula, que ganhou de presente, no dia 8 de janeiro, aquela bizarra invasão, o quebra-quebra nos Três Poderes, que deu a ele um verdadeiro salvo-conduto, tem criado um certo pânico entre os aliados. Seus comentários demonstram que ainda está no palanque, além de serem "tiros "em alguns aliados.

Sem me ater muito à ordem cronológica, vejamos alguns fatos. Lula insiste em tratar o impeachment da ex-presidente Dilma como um golpe. Mas, vale lembrar que , por obra do Ricardo Lewandowski, que era presidente do Supremo, e do Renan Calheiros, presidente do Senado, ela teve uma grande vantagem no processo de cassação. Mesmo impeachmada, não perdeu os direitos políticos.

Fato é que essa insistência do Lula acaba criando constrangimento a vários de seus ministros que votaram a favor do impeachment, bem como alguns parceiros importantes, como o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Como se não bastasse, o presidente eleito ainda chamou Michel Temer de golpista, no momento em que tem no MDB um dos principais fiéis da balança da sua governabilidade, tanto na Câmara como no Senado. E vale destacar que Temer tem uma grande influência sobre boa parte da máquina partidária.

E mais: volta e meia, Lula dá declarações na área econômica sem muito propósito, principalmente para um governo que está começando e depende de certa estabilidade econômica para que não tenha sobressaltos, em especial no aumento da inflação, o que assusta bastante os agentes econômicos.

Outro dia, ele falou contra a independência do Banco Central como um retrocesso, quando, na verdade, ter a autoridade monetária longe das "garras da política "é um grande avanço para o país. Para piorar, isso vem da boca de um presidente que já nomeou políticos para estatais importantes e duas delas foram vítimas de escândalos no próprio governo dele por conta de aparelhamento: Petrobras e Itaipu.

Lula tem no momento uma condição relativamente favorável de avançar algumas pautas para o país e para o seu governo no Congresso, mas é muito importante que ele desça do palanque, governe e faça o que se comprometeu: um governo de coalizão, amplo e não um governo do PT, que é o que está parecendo até agora.

*Ex-deputado e

consultor político