É preciso lembrar de Negrão de Lima

Por Aristóteles Drummond

A cidade do Rio de Janeiro teve bons gestores ao longo do século passado. Desde Pereira Passos, Carlos Sampaio, passando por alguns de obras pontuais, mas relevantes, como o Marechal Ângelo Mendes de Moraes, que construiu o Maracanã e a ponte para a Ilha do Governador, incluindo o acesso ao Galeão. Até 1950 quem chegava de avião por este aeroporto tinha de apanhar uma barca.

No governo JK, foi nomeado prefeito o embaixador Negrão de Lima, que já tinha rico passado na política nacional, foi constituinte em 1934 e chefiou o gabinete de um dos mais importantes personagens do Estado Novo, o ministro Francisco Campos, notável brasileiro. Com Getúlio Vargas, foi ministro da Justiça e, com JK, além de prefeito do então Distrito Federal, depois estado da Guanabara e hoje cidade do Rio de Janeiro, sendo a seguir ministro das Relações Exteriores e embaixador em Portugal.

Este relevante estadista chefiou a campanha de JK em 55 e estava assumindo a de 65, quando foi candidato e venceu a eleição para governador do Estado da Guanabara, que era, na verdade, a cidade do Rio.

Na verdade, fica difícil imaginar o Rio sem Negrão de Lima. Basta olhar as suas realizações como o alargamento da Avenida Atlântica e sua faixa de areia, os acessos à Barra da Tijuca, túneis e o elevado, e o Parque do Flamengo, que iniciou prefeito e terminou governador - Lacerda fez boa parte também.

Mas medida de coragem e alto espírito público foi enfrentar as críticas da turma do atraso, da demagogia e da irresponsabilidade ao remover favelas da zona sul do Rio. Terminou a Praia do Pinto, iniciada por Lacerda, seu antecessor, incluindo a Ilha das Dragas e a Pedra do Baiano - onde hoje está o Shopping Leblon - a Macedo Sobrinho, no Humaitá, e a Piraquê, na Lagoa Rodrigo de Freitas, que deu espaço para as pistas que bordeiam o muro do Jockey Club e chegam ao Miguel Couto e ao Jardim de Alah.

Como era um sábio político, apesar de ter passado sustos para tomar posse, conviveu às mil maravilhas com três presidentes militares que muito o prestigiaram: Castelo Branco, seu velho amigo, Costa e Silva e Emilio Médici. Com a criação do BNH por Roberto Campos, seu amigo e colega de Itamaraty, obteve os recursos para a construção de 35 mil unidades habitacionais populares.

O prefeito Eduardo Paes, que entrou para a história da cidade com os túneis 450 Anos e Marcello Alencar, Porto Maravilha e o alargamento da Av. Brasil, poderia dar o nome deste grande benfeitor da cidade a uma obra relevante. Negrão é apenas nome do viaduto de Madureira, que construiu como prefeito.