RJ: Iphan vota tombamento do prédio do Dops

Prédio serviu para fins sombrios: detenção e tortura de presos

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O martelo será batido na reunião do Conselho Consultivo

O futuro do edifício que abrigou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no centro do Rio de Janeiro, será decidido no fim deste mês. O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) votará, no dia 26, o tombamento definitivo do prédio, palco da repressão política durante o século passado. A reunião será transmitida ao vivo pela internet.

O processo, que tramita há mais de uma década, reconhece o valor histórico e artístico do imóvel e seu "papel simbólico nas lutas sociais e políticas em favor da democracia e da liberdade", segundo nota do Iphan. Se confirmado, o tombamento atenderá também a reivindicações antigas do Ministério Público Federal (MPF) e de entidades de direitos humanos, que pedem a criação de um centro de memória no local.

Inaugurado em 1910, o prédio de inspiração francesa foi construído para ser sede da Polícia Federal da época. Desde a década de 1960, está cedido à Polícia Civil do Rio, sob a condição de uso para fins policiais e preservação do imóvel. Fechado há mais de dez anos, encontra-se em estado de deterioração, com afrescos cobertos, vitrais quebrados e documentos ensacados.

O Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação, que denunciou o abandono do prédio, afirma que ele mantém "elementos autênticos" do período da repressão, como carceragens, salas de interrogatório com isolamento acústico e o gabinete do ex-chefe de polícia Filinto Müller, figura central na perseguição a opositores.

Para o arquiteto e pesquisador Felipe Nin, integrante do coletivo, o tombamento pode evitar projetos de "apagamento histórico". Segundo ele, proposta apresentada pela Polícia Civil ignora o passado de repressão e prevê transformar áreas simbólicas, como a carceragem feminina — onde estiveram Olga Benário e Nise da Silveira —, em espaços comerciais.

"O Dops representa um passado que o Estado tentou apagar. Manter sua memória viva é essencial para que a violência institucional não se repita", afirma Nin, sobrinho de Raul Amaro Nin, morto sob tortura em 1971.

Com o tombamento, o imóvel passará a ter proteção integral, impedindo qualquer descaracterização e reforçando o direito à memória e à verdade histórica.