A empresa portuguesa Morta-Engil Latam Portugal venceu, nesta sexta-feira, o leilão do túnel Santos-Guarujá, o primeiro submerso do Brasil. A disputa ocorreu em São Paulo, na sede da B3. A obra recebe o maior investimento dos projetos do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cerca de R$ 6,8 bilhões, e ocorrerá em parceria entre os governos federal e estadual, com participação da iniciativa privada.
O leilão foi disputado entre duas construtoras europeias que tiveram suas propostas consideradas regulares e aptas a participar: Acciona Concesiones, da Espanha, e Mota-Engil, de Portugal. A vencedora será responsável pela construção, operação e manutenção da estrutura.
A construtora Mota-Engil tem participação acionária da gigante chinesa China Communications Construction Company (CCCC), controlada pelo Estado chinês. O grupo venceu ao apresentar o maior desconto, na ordem de 0,50%, sobre a contraprestação pecuniária mensal do Governo de São Paulo, ao valor total de R$ 438,3 milhões.
"É um dia histórico e esta obra ela é muito mais do que uma simples conexão entre ponto A e ponto B. Ela representa efetivamente a união dos brasileiros, a união de diversos homens e mulheres que dedicaram esses últimos 100 anos para projetar este sonho que começa a se efetivar, a se concretizar no dia de hoje", afirmou Anderson Pomini, Presidente da Autoridade Portuária de Santos, no evento.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também esteve presente no leilão. Em seu discurso, ele exaltou a decisão do governo federal em apoiar um projeto que já havia sido idealizado há muitos anos.
"Se a ideia é boa, ela tem que sair do papel. Se a ideia é boa, não importa como nós vamos viabilizar. Se vai ser em parceria com o governo da situação ou da oposição, o importante é que a população de São Paulo finalmente vai ver uma obra imaginada 100 anos atrás sair do papel. Esse espírito que deveria presidir os trabalhos da Federação", disse.
Túnel submerso
A obra terá trajeto total de 1,5 km de extensão, com 870 metros de comprimento submersos sob o canal portuário. O projeto busca transformar a mobilidade da Baixada Santista, região com população de cerca de 1,8 milhão.
A ligação fixa entre as duas cidades é esperada há quase um século, e reduzirá o tempo de travessia de uma média de 20 minutos, de balsa, para apenas dois minutos. A obra contará com a implantação de espaço para os trilhos do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que se estenderá a Guarujá. A expectativa é de que o túnel fique pronto em 2030 e contrato terá duração de 30 anos e que gere cerca de nove mil empregos.
De acordo com o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, o modelo imerso representa um avanço inédito no Brasil, e poderá servir de exemplo para futuros projetos em regiões costeiras. Atualmente, o porto de Santos é o principal do Brasil e configura o maior complexo portuário da América Latina.
“Além de encurtar distâncias e impulsionar a logística portuária, o Túnel Santos–Guarujá reafirma o Brasil como protagonista da engenharia de infraestrutura na América Latina”, destacou o ministro.
A escolha da técnica de um túnel submerso levou em conta fatores decisivos, como o solo da região, que é formado por argilas moles e sedimentos fluviais e, por isso, não oferece estabilidade para escavações profundas. A construção de uma ponte foi descartada devido às restrições da Base Aérea de Santos e ao intenso tráfego de navios no canal portuário. Além disso, o túnel imerso apresenta vantagens ambientais e urbanas, exigindo menos desapropriações, reduzindo o impacto visual e permitindo uma execução mais rápida e eficiente.