Pinacoteca completa 120 anos e reafirma vocação nacional

Entre o passado e o presente, a Pinacoteca do Estado de São Paulo chega aos 120 anos mantendo o princípio que marcou sua criação: acompanhar a produção artística de seu tempo e refletir sobre a história brasileira a partir de novas perspectivas. Fundado em 1905, o museu é hoje o mais antigo e um dos maiores do país, reunindo acervo, arquitetura e programação voltados ao diálogo entre tradição e contemporaneidade.

A instituição foi criada em 24 de dezembro de 1905, na Praça da Luz, no edifício então ocupado pelo Liceu de Artes e Ofícios. O objetivo inicial era valorizar a produção nacional, em um contexto de fortalecimento do nacionalismo cultural. O acervo inaugural reunia 26 obras, sendo 20 transferidas do Museu Paulista da Universidade de São Paulo e seis adquiridas diretamente de artistas paulistas, como Almeida Júnior.

A trajetória da Pinacoteca se confunde com a de seus edifícios. Atualmente, o museu ocupa três espaços: a Pina Luz, a Pina Estação e a Pina Contemporânea. A Pina Luz, sede histórica, foi projetada por Ramos de Azevedo e nunca chegou a ser concluída conforme o plano original, permanecendo sem revestimento externo e cúpula ao longo do século XX. Essa condição foi preservada na reforma realizada entre 1994 e 1998 pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que transformou o prédio em um museu contemporâneo, com passarelas metálicas e iluminação zenital. O projeto recebeu, em 2000, o Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina.

A Pina Estação ocupa o antigo Armazém Central da Estrada de Ferro Sorocabana, construído em 1914, que também abrigou o Departamento de Ordem Política e Social (Deops) entre 1942 e 1983. Reformado em 2004, o edifício passou a receber exposições temporárias e áreas administrativas. Já a Pina Contemporânea, inaugurada em 2023, ampliou significativamente o complexo, com galerias para obras de grande formato, espaços educativos, biblioteca, auditório e áreas de convivência. Com os três prédios, a Pinacoteca soma mais de 22 mil metros quadrados e capacidade para receber mais de um milhão de visitantes por ano.

O acervo reúne cerca de 13 mil obras, das quais aproximadamente 1.200 estão em exposição. A curadoria trabalha com eixos conceituais que permitem a reorganização constante das mostras, promovendo releituras da história da arte brasileira. Obras consagradas convivem com produções contemporâneas, incluindo trabalhos de artistas negros e indígenas, ampliando narrativas e debates sobre identidade e representação.

A preservação é um dos pilares da instituição, que mantém um dos primeiros laboratórios de restauro do país e uma equipe dedicada à conservação preventiva. No Parque da Luz, esculturas expostas ao ar livre desde os anos 2000 passam por monitoramento contínuo, e o museu discute a ampliação do conjunto com maior diversidade de artistas.

A programação anual é organizada a partir de temas centrais. Em 2025, sob o eixo “Pop Popular”, a Pinacoteca apresentou 18 exposições inéditas em comemoração aos 120 anos, com foco nas relações entre arte, cultura popular e cultura pop no Brasil.

Nos últimos dez anos, cerca de 6 milhões de pessoas visitaram o museu. Pesquisa realizada em 2022 indica que a maioria do público associa a Pinacoteca à educação, preservação da memória e reflexão social. Ao completar 120 anos, a instituição reafirma seu papel como espaço público de acesso amplo, voltado à construção de novas leituras sobre a arte e a história do Brasil.