O cuidado com a IA para a opinião pública
A ascensão das inteligências artificiais generativas trouxe ganhos inegáveis para a comunicação, mas também escancarou um problema cada vez mais urgente: o uso dessas ferramentas para fabricar e disseminar notícias falsas em grande escala.
O que antes dependia de tempo, coordenação humana e algum custo agora pode ser produzido em segundos, com aparência de credibilidade e alcance potencialmente ilimitado. A tecnologia, que deveria ampliar o acesso à informação, torna-se arma quando colocada a serviço da manipulação.
O perigo não está apenas na produção acelerada de conteúdo enganoso, mas na sua capacidade de simular fontes confiáveis, imitar estilos jornalísticos e explorar vieses emocionais da audiência. Textos, vídeos e até áudios falsos podem reforçar crenças distorcidas, alimentar polarizações e influenciar comportamentos sociais ou decisões políticas.
Em sociedades já tensionadas, a circulação de falsidades com aparência de verdade cria um ambiente em que a confiança pública, principal alicerce de qualquer democracia, se esfarela em questão de minutos.
Não se pode, porém, responsabilizar a tecnologia em si. O problema é humano: são pessoas, empresas e grupos organizados que utilizam a IA como ferramenta de desinformação. Mas é dever das plataformas, dos governos e da própria imprensa construir mecanismos de defesa. Isso inclui maior transparência nos modelos, políticas rigorosas de identificação de conteúdo sintético e investimento em educação midiática para que o público aprenda a reconhecer sinais de manipulação.
Ao jornalismo cabe papel central. Em um cenário saturado de ruídos, a busca rigorosa pela verificação e pela clareza se torna ainda mais essencial. A IA pode ser aliada, ajudando a checar fatos, organizar dados e ampliar o alcance da informação de qualidade. Porém, não substituirá o olhar crítico, ético e humano que diferencia notícia de propaganda.
Se não enfrentarmos agora a banalização do engano, corremos o risco de entrar em uma era em que a verdade deixa de ser um consenso possível e passa a ser apenas mais um produto algorítmico. A sociedade não pode aceitar esse futuro.
