Debate na Assembleia discute eficiência do Sistema Cross em São Paulo

Reunião promovida pelo deputado Emidio de Souza (PT) reuniu representantes da sociedade civil que reclamam da gestão do sistema

Por Ana Laura Gonzalez - SP

Audiência pede transparência e agilidade no Cross

O Sistema Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde) voltou a ser discutido em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na manhã desta quinta-feira (27). Convocada pelo deputado Emidio de Souza (PT), a reunião reuniu representantes da sociedade civil e especialistas em saúde, que apontaram a necessidade de maior transparência e agilidade no funcionamento do sistema.

Criado pela Secretaria de Estado da Saúde, o Sistema Cross tem como função organizar a distribuição e o controle de recursos públicos para consultas, exames e cirurgias. Ele considera a disponibilidade dos serviços em cada região para realizar os agendamentos, garantindo que a fila de espera seja gerida de forma centralizada.

Segundo Emidio de Souza, apesar da proposta do Cross ser adequada, a execução enfrenta problemas de demora. "O espírito do Cross está correto, que é organizar uma fila, evitando que ela seja furada por conveniências de outra natureza. Mas a verdade é que o Cross demora demais no atendimento. As pessoas estão demorando para ser atendidas e, em alguns casos, isso significa a divisão entre a vida e a morte", afirmou.

O parlamentar destacou ainda a necessidade de priorização técnica dos casos mais urgentes. "Precisa ter transparência dentro do processo para saber como anda a fila e o que é feito com aqueles casos que a pessoa não pode aguardar na fila do Cross. Essa fila não pode ser burra. Ela tem que considerar, de alguma forma, a gravidade dos pacientes", acrescentou.

A deputada Ana Perugini (PT), coordenadora da Frente Parlamentar do Sistema Cross, também participou da audiência e classificou a organização das filas como um problema grave. "Não se sabe a ordem dessa fila, em que momento e por que você é colocado para trás. Quando entramos no Cross, não sabemos o que vai acontecer conosco. O Cross não pode continuar existindo do jeito que está", afirmou.

O debate ocorreu em um contexto de crescente demanda pelos serviços públicos de saúde, impulsionada pelo envelhecimento da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2024, São Paulo tinha 8,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos, representando 17,2% da população estadual, ante 11,3% em 2012.

A socióloga e pesquisadora da economia do envelhecimento Maria do Carmo Guido destacou que a situação torna o Cross um "calvário" para idosos. "Imaginem idosos que estão no preparo para uma colonoscopia, por exemplo, e têm que ir para outro município para fazer o exame. O Cross é um sistema de vida ou morte", afirmou. Representantes de associações de pacientes com doenças raras e crônicas também relataram dificuldades no acesso aos serviços.

Durante a audiência, a diretora do Departamento de Regulação Assistencial e Controle, Luciana Lujan, representando o Ministério da Saúde, comentou sobre a migração do sistema de regulação para o nível federal e fez um apelo à cooperação entre estados e municípios. "Considerando que o SUS é tripartite, convidamos a todos os estados e municípios a enviarem suas filas para que juntos consigamos vencer a questão da espera, dialogar melhor, estabelecer novas rotinas para acompanhamento das filas e dar maior eficiência ao Sistema Único de Saúde", afirmou.

A discussão na Alesp reforça o debate sobre a necessidade de modernização e transparência no gerenciamento de filas e recursos da saúde pública, considerando o impacto direto na vida dos pacientes que dependem do serviço. Especialistas e parlamentares ressaltaram que a melhoria do Cross é fundamental para garantir atendimento mais ágil e seguro à população, sobretudo à parcela mais vulnerável e idosa.