Greve na Unicamp mobiliza 30% de trabalhadores contra proposta de criar autarquia
O Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), as equipes estão se revezando para assegurar a continuidade dos atendimentos essenciais, conforme determina a legislação
Trabalhadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) iniciaram uma greve na manhã desta segunda-feira (15), em protesto contra a proposta da reitoria de alterar o modelo de gestão do complexo hospitalar da universidade. A paralisação ocorre na véspera da reunião do Conselho Universitário (Consu), marcada para esta terça-feira (16), que deve analisar o projeto de criação de uma autarquia para a área da saúde.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), cerca de 30% dos profissionais do setor aderiram ao movimento. A entidade afirma que as equipes estão se revezando para assegurar a continuidade dos atendimentos essenciais, conforme determina a legislação.
Durante a manhã, trabalhadores realizaram uma passeata dentro do campus, com faixas e carro de som, para chamar a atenção da comunidade acadêmica e da sociedade para os riscos que, segundo eles, estão associados ao novo modelo de gestão. A greve foi aprovada em assembleia realizada no dia 11 de dezembro e tem duração prevista de 48 horas. Após a reunião do Consu, o comando de greve deve reavaliar os rumos da mobilização.
Para o diretor do STU, Toninho Alves, o primeiro dia de paralisação cumpriu o objetivo de dar visibilidade à insatisfação da categoria. “O primeiro dia de greve atingiu o objetivo de mostrar a insatisfação dos trabalhadores da área da saúde da Unicamp. Amanhã ampliaremos a adesão à greve contra a proposta de autarquização”, afirmou.
O sindicato convocou um novo ato para esta terça-feira (16), às 9h, em frente à Reitoria e ao prédio do Consu. “Convidamos todos a participar do ato contra a autarquização da área da saúde da Unicamp”, afirmou Toninho.
Segundo o sindicato, os principais impactos da paralisação ocorrem nos ambulatórios e nas cirurgias eletivas. Já o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp informou, em nota, que mantém o funcionamento normal de todas as atividades assistenciais, tanto eletivas quanto de urgência. A reitoria da Unicamp declarou que não há paralisação das atividades acadêmicas e administrativas na universidade e que respeita as diferentes formas de manifestação.
Críticas ao modelo proposto pela reitoria
“Nós não queremos a autarquização na área de saúde”, declarou Toninho Alves. Segundo o dirigente sindical, a proposta foi apresentada sem tempo adequado para debate com a comunidade universitária. Ele afirma que o projeto chegou em novembro e já estava previsto para votação no início de dezembro, sendo retirado de pauta e recolocado para deliberação agora, no dia 16. “Não houve discussão suficiente”, avalia.
Entre as principais preocupações do sindicato estão os impactos sobre os vínculos trabalhistas. Toninho aponta que trabalhadores terceirizados ligados à Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) não teriam garantia de absorção pela nova autarquia. “Esses profissionais teriam que pedir demissão e se submeter a um novo processo seletivo”, afirma.
No caso dos servidores concursados, o sindicato teme prejuízos à progressão na carreira e à manutenção de direitos. Segundo Toninho, o modelo prevê que esses trabalhadores sejam cedidos à autarquia, o que pode resultar em estagnação funcional e insegurança jurídica. Ele também critica a possibilidade de ampliação de contratações via Pessoa Jurídica (PJ), temporárias ou terceirizadas. “É o fim do concurso público”, disse.
Outro ponto de contestação é a cessão de parte da infraestrutura da universidade. De acordo com o sindicato, o projeto permite que bens móveis e imóveis transferidos à autarquia possam ser vendidos ou alugados. “Um prédio como o do CAISM pode acabar sendo explorado pela iniciativa privada”, alerta. Ele também critica a possibilidade de atendimento não exclusivamente voltado ao SUS, o que poderia abrir espaço para a chamada “dupla porta”.
Toninho ainda ressalta que o projeto precisará passar pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). “Nada garante que o texto aprovado no Consu será mantido pelos deputados. Lá, o projeto pode ser alterado conforme interesses políticos”, afirmou.
O dirigente também questiona a promessa de reforço financeiro. Segundo ele, o aporte de R$ 1 bilhão anunciado pelo governo estadual só estaria previsto para 2032. “Até lá, a Unicamp continuará arcando com os custos. E não sabemos qual governo estará no poder em 2032”, disse, acrescentando que experiências semelhantes em outras universidades não resolveram os problemas de financiamento.
Reitoria defende mudança para garantir sustentabilidade financeira
Em entrevista à TV Unicamp, o reitor Paulo Cesar Montagner afirmou que a proposta de autarquização é uma resposta à necessidade de reequilíbrio orçamentário da universidade. Ele destacou que o orçamento previsto para 2026 prevê o uso de R$ 890,8 milhões da reserva estratégica, enquanto a área da saúde consome atualmente cerca de R$ 1,1 bilhão dos recursos da instituição.
“A área da saúde é fundamental para a nossa região, mas precisa de novos investimentos. É muito difícil sustentar um hospital dessa natureza apenas com o orçamento da universidade”, afirmou o reitor. Segundo Montagner, a proposta surgiu após sinalização da Secretaria de Estado da Saúde de que o governo poderá assumir gradualmente os custos hospitalares.
O reitor também garantiu que o projeto preserva os direitos dos trabalhadores e mantém o atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O projeto prevê todas as garantias constitucionais para os servidores da Unicamp que atuam na área da saúde e assegura a continuidade do atendimento aos pacientes do SUS”, disse.
Montagner afirmou ainda que a mudança pode liberar recursos para a expansão acadêmica da universidade, incluindo a criação de novos cursos, contratação de pessoal e investimentos em infraestrutura.
Votação decisiva
A proposta de autarquização da área da saúde da Unicamp será analisada pelo Conselho Universitário nesta terça-feira (16). Caso seja aprovada, o projeto seguirá para o Governo do Estado e, posteriormente, precisará ser votado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
