Imagens divulgadas expõem mais agressões de vereador Otto Alejandro, de Campinas
"Não ganha mais de mil reais", diz vereador Otto Alejandro para porteira de prédio
Imagens de uma câmera de segurança registraram o vereador campineiro Otto Alejandro (PL) ameaçando, ofendendo e intimidando a porteira do edifício onde vive sua namorada. O registro é de abril deste ano e veio à tona após a denúncia de violência doméstica feita pela moça semana passada. A funcionária aparece visivelmente desconfortável e intimidada enquanto o parlamentar, que segura uma garrafa de cerveja e está acompanhado de um homem a quem ele se refere como “doutor”, altera o tom de voz e inicia uma série de xingamentos, assim que chega no condomínio.
No vídeo, o vereador dirige uma sequência de ataques à porteira. Entre as ofensas, Otto Alejandro fala que ela "não ganha mais que mil reais", insinuando que ela teria um salário baixo, e afirma, em tom ameaçador: "A hora que você pisar para fora, nós vamos conversar". Otto também chama a funcionária de “cabelo de fogo, do capeta, sapatão”. Além deste, outro vídeo foi divulgado por uma testemunha, em que Otto aparece agredindo o motorista de um ônibus, passageiros e a namorada. (Leia mais abaixo)
Otto também declara que estava no local para cobrar uma suposta dívida atribuída à namorada e menciona que aquela seria a segunda vez que fazia essa cobrança, acrescentando que “não haveria uma terceira”.
A assessoria do parlamentar declarou que a situação teria origem em “questões financeiras” e alegou que o parlamentar teria sido “insultado várias vezes, e que respondeu na mesma intensidade”. A equipe acrescentou que a gravação teria passado por edição, “restando apenas as falas do vereador” mas não informou qual trecho teria sido alterado. As imagens mostram a chegada e a saída de Otto, sem interrupções aparentes.
O Correio da Manhã divulgou na semana passada que a namorada de Otto registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) por violência doméstica, ameaça, injúria e dano. No relato, ela acusa o vereador de agressão física, violência psicológica, ameaça de morte, injúria e dano material. Segundo ela, ele destruiu objetos dentro de sua residência, usou termos como “puta”, “vadia” e “ingrata” e a ameaçou de morte, dizendo “vou acabar te matando”. Otto negou ter cometido qualquer violência e afirmou ser alvo de perseguição política.
Nesta segunda-feira (17), a Câmara Municipal de Campinas tentou realizar a votação para abrir uma Comissão Processante que poderia resultar em um processo de cassação do mandato, mas a sessão foi esvaziada após articulação de parte dos vereadores de direita, o que impediu o quórum necessário. Com isso, a deliberação foi adiada e deverá voltar à pauta na reunião ordinária desta quarta-feira (19).
Testemunha relata episódios de agressão do vereador em ônibus de Campinas
Além do episódio no condomínio, surgiram novos relatos envolvendo o parlamentar. Uma testemunha que não quis se identificar afirmou à reportagem que presenciou Otto Alejandro agredindo passageiros dentro de um ônibus de viagem, na esquina das avenidas Francisco Glicério e Aquidabã, em Campinas, em julho deste ano. O depoimento se soma ao vídeo das ameaças à porteira e a outra gravação, divulgada pela testemunha, em que Otto aparece agredindo o motorista do ônibus. “Tenho um vídeo dele, filmado por mim, de julho deste ano, quando ele apedrejou um ônibus e quebrou o vidro, ameaçou motorista e passageiros e empurrou a namorada, chamando de vadia”, relatou.
Antes disso, a testemunha havia acabado de embarcar. “Quando eu cheguei, coloquei minha mala no porta-malas, subi no ônibus, sentei. Sentados no ônibus, do nada um barulho forte e a janela de trás estilhaçada. Imaginei até que tinha sido uma batida. Mas na verdade o ônibus tinha sido apedrejado por alguém”. Após o primeiro impacto, ela afirma que o vereador continuou: “Ele ainda jogou mais pedras que poderiam ter acertado alguém.”
Ela relata que acompanhou praticamente tudo de dentro do ônibus. “Eu fiquei quase todo o tempo dentro do ônibus, o momento que saí foi depois que o ele espatifou o celular do motorista do ônibus.” Segundo seu relato, foi nesse momento que a situação ficou ainda mais tensa: “O motorista foi tentar conversar com o vereador com o celular na mão, o Otto pega o celular da mão do motorista, joga no chão e quebra o celular. Então, alguns passageiros começam a filmar, começam a se revoltar.”
A partir daí, o vereador teria avançado contra quem estava na calçada e também contra quem tentava registrar o ocorrido. “O Otto foi pra cima dos passageiros, gritando com todo mundo, inclusive comigo, que fiz uma das filmagem”. A testemunha confirma que também foi ameaçada diretamente: “Eu estava filmando e ele veio pra cima de mim”.
Com a confusão aumentando, a testemunha diz que recuou. “Quando saí pra filmar, ele ameaçou de vir pra cima das pessoas que estavam na rua na porra do ônibus, aí voltei pra dentro e acompanhei tudo de dentro do ônibus.” Segundo ela, o parlamentar deveria consumido álcool: “Não interagi com ele. Mas pelo estado em que estava, ele falava tão arrastado que se falasse comigo eu provavelmente não ia entender".
A mulher que estava com o vereador também tentava intervir. “A moça que estava com o vereador tentou apartar a discussão e ele partiu pra cima dela. Teve, de fato, agressão física”, afirmou.
“No momento da agressão física à mulher eu estava dentro do ônibus. Acompanhei tudo. Teve puxões e empurrões. Além de xingamentos diversos.” Ela reforça que essa parte do episódio é o que mais a indignou: “As minhas revoltas foram a agressão ao motorista, aos passageiros, a questão de quebrar o vidro que podia ter atingido alguém, e também a maneira com que ele tratava a mulher.”
A chegada da Guarda Municipal, segundo ela, não resolveu a situação. “Aí, chegou a polícia, não fez teste do bafômetro.” Pouco depois, um homem teria aparecido dizendo que dirigiria o veículo do parlamentar. “Chegou uma outra pessoa se dizendo motorista do carro, para dirigir para o vereador. Otto estava visivelmente embriagado, que inclusive a fala dele…”.
A testemunha acredita que nenhuma ocorrência policial tenha sido registrada ali. “Não acho que foi feito BO, fiquei com o motorista até o momento em que os guardas mandaram ele sair com o ônibus apedrejado. O motorista chegou a coletar dados de pessoas para serem testemunhas.”
Enquanto isso, dentro do veículo, quem presenciava a cena tentava se proteger. “De dentro do ônibus os passageiros se refugiaram e ligaram pro 190.”