Vereador de Campinas Otto Alejandro é investigado por violência doméstica após denúncia de namorada
Companheira afirma ter sido agredida e ameaçada de morte pelo parlamentar que teria invadido sua casa e quebrado objetos
A Polícia Civil de São Paulo investiga o vereador Otto Alejandro (PL), de Campinas, por violência doméstica, injúria, ameaça e dano. A denúncia foi feita pela namorada do parlamentar, que registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) na última segunda-feira (10). A vítima acusa o vereador de agressão física, violência psicológica, ameaça de morte, injúria e dano material. Ela relata que os episódios de violência vêm ocorrendo ao longo do relacionamento, que dura cerca de um ano e meio.
No depoimento prestado à Polícia Civil, ela disse que o vereador a atacou com xingamentos, ameaças, e disse: “vou acabar te matando”. A vítima relatou ainda ter sido agredida fisicamente e verbalmente, comportamento que, segundo o registro, se repetiria principalmente quando Otto consome álcool. O boletim aponta que ele “faria uso frequente de bebidas alcoólicas, ficando muito alterado”.
O boletim de ocorrência descreve que, no mesmo dia, o parlamentar entrou em na casa da vítima sem autorização, quebrou objetos e levou uma televisão, que será periciada. Segundo ela, agressões anteriores já haviam ocorrido, mas nunca tinham sido formalizadas por medo e por tentativas de manter o relacionamento.
No registro, ela informou não desejar acolhimento ou medidas protetivas naquele momento e não apresentou testemunhas. Após o BO, foi orientada sobre os instrumentos da Lei Maria da Penha e encaminhada ao Centro de Apoio à Mulher e à Defensoria Pública para acompanhamento jurídico e psicológico.
O vereador, que cumpre seu segundo mandato, está com o perfil oficial do Instagram desativado. A reportagem tentou contato, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Outras acusações
As denúncias agora registradas na DDM se somam a outro episódio envolvendo Otto Alejandro. De acordo com relato incluído no boletim e já divulgado anteriormente pela imprensa, o parlamentar foi acusado, em julho deste ano, de quebrar o vidro traseiro de um ônibus de viagem durante uma discussão. O motorista afirmou que ele estaria embriagado e teria feito ameaças no momento do conflito.
A Polícia Civil abriu investigação formal para apurar os fatos narrados.
Comissão Processante
A denúncia levou à apresentação de um pedido de Comissão Processante na Câmara Municipal, protocolado na sexta-feira (14). O documento será analisado pela Procuradoria Jurídica antes de seguir, se considerado apto, para leitura e votação em plenário.
O pedido de Comissão Processante encaminhado à Câmara cita tanto a denúncia da namorada quanto o episódio do ônibus, ocorrido em 13 de julho. A Procuradoria Jurídica vai avaliar se o requerimento atende aos critérios previstos no Decreto-Lei 201/1967, que regulamenta processos por quebra de decoro parlamentar.
Se for considerado tecnicamente apto, o protocolo deverá ser lido e submetido à votação na próxima sessão ordinária, marcada para segunda-feira (17).
Vereadoras repudiam acusações de violência doméstica
Após a divulgação da denúncia, vereadoras de diferentes partidos se reuniram para preparar uma representação conjunta à Corregedoria da Câmara. As parlamentares Guida Calixto e Paolla Miguel (PT), Mariana Conti e Fernanda Souto (PSOL) e Débora Palermo (PL) publicaram notas oficiais repudiando as acusações, cobrando apuração rigorosa e providências do Legislativo.
Em manifestação compartilhada nas redes sociais, Guida Calixto e Paolla Miguel afirmaram que as denúncias configuram “um quadro grave e inaceitável de violência contra a mulher” e consideraram “revoltoso que um representante eleito para defender a população esteja envolvido em acusações dessa natureza”. Elas defenderam rigor na apuração e reforçaram que “a credibilidade da vítima deve ser respeitada e protegida pelas instituições”.
O grupo de vereadoras do PT listou quatro cobranças: abertura imediata de investigação, eventual responsabilização do parlamentar, posicionamento da Câmara e apoio integral à vítima.
A vereadora Débora Palermo (PL), colega de partido de Otto, também se manifestou publicamente. Ela afirmou sentir “profunda indignação diante das graves denúncias” e declarou que não há espaço para omissão: “Ainda que o vereador pertença ao mesmo partido que eu, é minha obrigação me manifestar. Não há espaço para conivência ou silêncio diante de qualquer forma de violência contra a mulher”. Palermo disse esperar investigações com “agilidade, transparência e imparcialidade” e expressou solidariedade à vítima.
As vereadoras Mariana Conti e Fernanda Souto (PSOL) também integraram as articulações internas e afirmaram que o Legislativo não pode se omitir diante de denúncias dessa gravidade.
A Câmara Municipal ainda não informou se adotará medidas adicionais além da análise do pedido de Comissão Processante.