Indígena denuncia violência sexual sob custódia no AM
Mulher ficou detida com homens por mais de nove meses
Por Mateus Lincoln
Uma indígena da etnia Kokama, de 29 anos, entrou com ação contra o estado do Amazonas após relatar abusos psicológicos, físicos e sexuais cometidos por policiais militares e um guarda municipal.
O caso foi denunciado pelo portal Sumaúma e, segundo a denunciante, aconteceu enquanto ela esteve presa, por mais de nove meses, em Santo Antônio do Içá (AM), a 880 quilômetros de Manaus.
A mulher relata que a violência aconteceu entre novembro de 2022 e agosto de 2023, período em que ainda amamentava o filho recém-nascido, que ficou com ela nas primeiras semanas. No município, não há um presídio, então ela teve que dividir o local com homens no prédio da 53ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM).
A defesa pede R$ 500 mil de indenização, mas o estado propõe pagar apenas R$ 50 mil. O governo do Amazonas foi procurado, mas, até o fechamento desta matéria, não respondeu ao Correio da Manhã.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) informou que foram abertas investigações pela PC-AM, Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) e pela Corregedoria-Geral da SSP. As investigações seguem em sigilo.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) confirmou que foi notificada sobre o caso por meio da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Ao Correio, a autarquia informou que mobilizou setores administrativos e jurídicos.
A Procuradoria Federal Especializada junto à Funai acionou o Ministério Público, as defensorias pública estadual e federal, além da Corregedoria do Sistema de Segurança Pública para solicitar o afastamento imediato dos agentes citados.
Em junho, equipes da Funai em Manaus e da Coordenação-Geral de Promoção à Cidadania visitaram a detenta para avaliação das condições de saúde dela e do filho.
A fundação acionou o Ministério da Mulher para medidas protetivas e iniciativas preventivas diante de relatos, que estão sendo apurados, de outras mulheres em situação semelhante na mesma delegacia.
"É dever de todo o Estado brasileiro combater a violência em todas as suas formas, promovendo o respeito a todas as pessoas", informou a Funai, na nota enviada ao Correio.