Por Fernanda Brandão Martins*
No final do mês de março, o Brasil recebeu a visita do presidente francês Emmanuel Macron. O encontro foi marcado por uma série de fotos com ar descontraído entre os dois presidentes na Amazônia, o que acabou ofuscando o principal objetivo.
Entre as atividades da agenda, a mais importante foi o lançamento do submarino Tonelero, o terceiro dos quatro submarinos Scorpène do programa Prosub, na base naval de Itaguaí.
O submarino é o terceiro de uma lista de quatro submergíveis desenvolvidos como fruto da parceria de transferência de tecnologia entre Brasil e França para a construção de embarcações, como resultado de um acordo assinado em 2008. A negociação cria oportunidade de acesso a tecnologias mais avançadas à marinha brasileira e favorece o progresso da indústria naval nacional.
O projeto do Prosub incluiu a fabricação do primeiro submarino de propulsão nuclear da Marinha do Brasil. As embarcações construídas sob o programa têm o objetivo de garantir a defesa do espaço naval chamado de Amazônia Azul, importante estrategicamente não apenas como meio de navegação, mas como fonte de recursos estratégicos. Nesse caso, a cooperação na área da defesa entre Brasil e França é um dos principais elementos na relação entre os dois países.
A relação entre os dois países possui pontos de proximidade e de afastamento, ao mesmo tempo. Ao passo que a cooperação em defesa entre os dois países é promissora, a França é um dos principais países que ameaçam vetar o acordo comercial Mercosul-União Europeia. Há uma grande pressão interna de agricultores franceses contra a assinatura do acordo que facilitaria o acesso de produtos agropecuários brasileiros ao mercado europeu.
Vale destacar que a questão agrícola é um tema bastante sensível na política doméstica francesa, e de outros países da União Europeia que contam com subsídios para a proteção da indústria agropecuária doméstica. Inclusive, em evento na Fiesp, o presidente francês fez críticas ao acordo UE-Mercosul. Além disso, a França exige que uma série de medidas de proteção à Amazônia sejam incluídas no acordo comercial em negociação.
A França é um importante parceiro brasileiro quando se trata de questões de defesa e de comércio. O submarino Tonelero mostrou a importância dessa cooperação na área defensiva, mas a dificuldade de alcançar um consenso no âmbito do acordo UE-Mercosul mostra que os dois parceiros também possuem muitos pontos de desencontro nos interesses.
*Coordenadora do curso de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.