Por:

Ceará foi vanguarda na abolição da escravidão

Chico da Matilde, conhecido como Dragão do Mar, se opôs à escravidão no Ceará | Foto: Gov-CE

No aniversário dos 140 anos da Abolição da Escravidão no Ceará, o estado relembra seu pioneirismo ao decretar o fim da escravidão em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea no Brasil. Celebrado em 25 de março, o feriado da Data Magna destaca a distinção do Ceará como a "Terra da Luz".

A iniciativa para instituir o feriado partiu do deputado estadual Lula Morais, como uma forma de celebrar o pioneirismo do estado na luta pela liberdade. O marco remonta a 1º de janeiro de 1883, quando a Vila do Acarape, hoje conhecida como Redenção, libertou os escravizados.

"Em 1984, quando teve o Centenário da Abolição no Ceará, os jornais do estado se projetaram como esse lugar onde primeiro foi iluminado. Um jornal vai dizer que o grito [de liberdade] foi tão forte que a princesa Isabel ouviu lá no Rio de Janeiro. Na verdade, quando a gente olha para o Centenário e para as figuras que são homenageadas e celebradas, não são as figuras que estiveram à frente dos processos de luta pela liberdade. Desde então, temos lutado para construir outros marcos dessa liberdade, com o movimento negro organizado", destaca Cícera Barbosa, conhecida como Cícera Preta, professora de História e pesquisadora das Celebrações de Liberdade e os Sentidos de Liberdade da Luta Negra no Ceará.

A pesquisadora destaca que os marcos históricos revelam as diversas formas de resistência e os movimentos abolicionistas em todo o território na época. Um exemplo é a Vila do Acarape, hoje Redenção, e outras cidades cearenses que aboliram a escravidão no mesmo ano. Enquanto isso, o Brasil só decretaria o fim da escravidão em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.

"Tínhamos a proibição da compra de pessoas do outro lado do Atlântico, mas tínhamos aqui a ida dessas pessoas para o Sul e Sudeste do Brasil. Então, quando cearenses desse território decidem não enviar mais companheiros para o Sul e Sudeste, o comércio é travado. Começamos a ter festas de rei do Congo, umbigadas. Uma série de pessoas vivendo o cotidiano aqui e lutando por essa liberdade", explica.

Cícera ressalta a relevância de reconhecer o protagonismo das pessoas negras em contextos históricos e sociais, tanto no dia 20 de novembro quanto agora, no dia 25 de março.

"É entender que nós, negros e negras, somos sujeitos de direitos. E essa sociedade precisa entender que somos diferentes, mas não é a partir dessas diferenças que se dá um processo de injustiça ou violação de direitos".

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.