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Energéticos: glamour e risco

Por Jorge Jaber*

Com design moderno e cores vibrantes, associadas à música eletrônica ou esportes radicais e divulgadas por jovens estrelas da internet, as bebidas energéticas se tornaram símbolo de um estilo de vida ativo, dinâmico, veloz - energético, com perdão pela redundância. Não por acaso, o consumo no Brasil segue o ritmo: entre 2010 e 2020, passou de 300 para 710 mililitros anuais por habitante. O glamour, no entanto, esconde alguns problemas que seu excesso pode provocar à saúde — inclusive a dependência.

Dois estudos recentes lançam alertas sobre o produto. O primeiro relaciona o excesso de energéticos a problemas no sono, o que não surpreende, pois eles contêm cafeína, um potente estimulante, assim como o café. A questão é a quantidade: enquanto um ou dois cafezinhos já nos satisfazem, os energéticos podem ser ingeridos às dúzias numa única noitada. Difícil fechar os olhos depois desse exagero, infelizmente, comum.

O segundo indica uma ligação entre o consumo e transtornos mentais como ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas, e aponta os homens como mais propensos aos energéticos, o que explica o apelo nem sempre sutil à virilidade presente em suas propagandas. O estudo também relaciona o excesso da bebida ao uso de drogas, direção imprudente e prática de sexo sem proteção. Não por acaso, países como Dinamarca, Canadá e França têm restrições à venda em escolas ou para menores de idade, além de regras rígidas para as embalagens.

Diante desses e de outros riscos dos energéticos, como problemas cardíacos, desidratação e ganho de peso, é tempo de pensar, também no Brasil, em algum tipo de regulamentação sobre eles. Podemos começar pela discussão do Projeto de Lei 455, de 2015, que propõe a proibição do consumo por menores de 18 anos. Se esta é a melhor solução, o debate dirá. De qualquer forma, precisamos proteger, com informações baseadas na Ciência, a saúde de nossa população — em especial, a mais jovem, particularmente sensível ao canto de sereia da publicidade.

*Grande Benfeitor da Academia Nacional de Medicina e professor de Psiquiatria da PUC-Rio

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