Fora do Eixo: Paranoá une cinema e cultura popular nordestina

Região articula festival, portal cultural e ações ligadas ao audiovisual

Por Rudolfo Lago -BSB

Martinha do Coco é uma das personalidades culturais do Paranoá

Palco de muita arte e berço de muitos artistas, o Paranoá hoje se consolida dentro da cena cultural do DF de forma singular. Criado em 1987, o Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá e Itapoã (Cedep) atua nas áreas de cultura e educação no Distrito Federal e é um dos realizadores do Festival de Cinema do Paranoá. A iniciativa integra um conjunto de ações desenvolvidas pela entidade junto à comunidade local e tem como foco a promoção de produções cinematográficas brasileiras a partir das Regiões Administrativas do Paranoá e do Itapoã, com conexões em outros territórios do DF e do país.

O Festival de Cinema do Paranoá busca ampliar o acesso ao audiovisual e estimular a produção independente, estudantil e autoral. A programação prioriza a participação de cineastas negros, a pluralidade de narrativas e a ampliação da presença de obras dirigidas por mulheres. As três edições do festival foram realizadas nas dependências do Cedep, organização sem fins lucrativos que atua há mais de 30 anos na região.

O Cedep desenvolve projetos voltados à alfabetização de jovens e adultos, educação infantil, atividades culturais, esportivas e ações de cidadania. Parte dessas iniciativas tem como eixo a promoção da igualdade de gênero. O Paranoá e o Itapoã estão entre os territórios classificados como áreas de vulnerabilidade social no Distrito Federal, contexto no qual a instituição mantém atuação continuada junto à população.

Portal digital

Além do festival, o Cedep participa da construção do Território Cultural do Paranoá, um portal digital voltado ao mapeamento e ao fortalecimento da produção cultural local. A plataforma tem como objetivo cadastrar agentes culturais e artísticos da região, como cantores, compositores, músicos, bandas, grupos, artistas visuais, poetas, artesãos, coletivos e espaços de criação. O levantamento busca sistematizar informações sobre a produção cultural existente e ampliar a articulação entre os agentes do território.

A proposta do portal está relacionada a ações de arte, educação e fomento cultural desenvolvidas no Paranoá. A iniciativa pretende reunir dados que contribuam para a formulação de políticas culturais e para a visibilidade dos trabalhadores da cultura que atuam na região administrativa.

Martinha do Coco

Entre as ações culturais ligadas ao território está a proposta idealizada por Marta Leonardo, conhecida como Mestra Martinha do Coco. Moradora do Paranoá há cerca de 30 anos, a artista desenvolve atividades socioculturais voltadas à valorização da cultura popular e afro-brasileira no local. Nos últimos seis anos, essas ações foram organizadas em três eventos anuais, realizados no início, no meio e no fim do ano.

Nascida em Olinda, em Pernambuco, Martinha do Coco migrou para a antiga Vila do Paranoá aos 17 anos e mora na região administrativa desde então. Iniciou sua trajetória profissional como empregada doméstica e, posteriormente, passou a atuar com música. Teve contato com o samba de coco a partir do grupo de percussão da Organização Tambores do Paranoá (Tamnoá), do qual se tornou integrante e fundadora do Ponto de Cultura Tambores do Paranoá. Seu trabalho autoral dialoga com referências do coco, maracatu e ciranda. Em 2013, recebeu do Ministério da Cultura o título de Mestra da Cultura Popular.

Desde o início da carreira solo, em 2006, Martinha do Coco realizou apresentações no Distrito Federal e em outros estados, participando de eventos institucionais e festivais culturais. A artista também organiza anualmente, no Paranoá, o pré-carnaval de rua com o bloco Segura o Coco. Recentemente, recebeu o Prêmio de Mestra da Cultura Popular da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

Quadrilhas

O território do Paranoá também se destaca no circuito de quadrilhas juninas. A quadrilha Arroxa o Nó, sediada na região, conquistou o primeiro lugar no grupo especial do Distrito Federal pela Liga de Quadrilhas Juninas do Distrito Federal e Entorno (LinqDFE). A final ocorreu nos dias 20, 21 e 22 de junho, no estacionamento do Estádio Serejão, em Taguatinga, com a participação de mais de 20 grupos.

Com o tema “O Segredo do Alto do Moura”, a apresentação da Arroxa o Nó abordou a obra do artesão pernambucano Mestre Vitalino. Em segundo e terceiro lugares ficaram, respectivamente, as quadrilhas Formiga da Roça, de São Sebastião, e Ribuliço, da Ceilândia. No Grupo de Acesso, a quadrilha Vai mas Não Vai, de Luziânia, ficou em primeiro lugar, seguida por Tico Tico no Fubá, de Águas Lindas de Goiás, e Espalha Brasa, do Paranoá.

As quadrilhas vencedoras do grupo especial seguem para a etapa de representação do Distrito Federal em concursos nacionais, na qual a Arroxa o Nó ganhou o título nacional em 2024. As ações relacionadas ao audiovisual, à cultura popular e às manifestações tradicionais integram o conjunto de iniciativas desenvolvidas no Paranoá por agentes culturais e instituições locais, entre elas o Cedep, que mantém atuação contínua no território desde a década de 1980.