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Festival celebra tradições das Yabás, as orixás femininas, em Samambaia

Por Mayariane Castro

As Yabás são as orixás femininas das religiões de matriz africana

Na canção que abre seu célebre disco “Pássaro Proibido”, Maria Bethânia canta a força das Yabás, as orixás mulheres. Composta como se fosse um ponto de umbanda por Caetano Veloso e Gilberto Gil, a canção mostra o quanto as Yabás parecem verdadeiras heroínas, a partir do poder que lhes concede a conexão com a natureza.

É essa mesma força o que pretende mostrar o projeto Yabás Deusas Negras, na sua segunda edição no Complexo Cultural de Samambaia, no Distrito Federal. O festival tem programação voltada à difusão das tradições de matriz africana e ao debate público sobre intolerância religiosa. Idealizado por Mãe Francys de Oyá, o encontro reúne atividades culturais, oficinas e apresentações abertas à comunidade. A entrada é gratuita mediante retirada de ingressos na plataforma Sympla.

A iniciativa, desenvolvida ao longo de 2025, busca ampliar o acesso a conteúdos relacionados às Orixás femininas, conhecidas como Yabás, e fortalecer as discussões sobre identidade, ancestralidade e participação das mulheres negras em espaços culturais e sociais. Nesta edição, oficinas de percussão foram realizadas durante a semana que antecede o festival, cuja programação principal ocorre no sábado e no domingo.

Segundo a organização, o evento se consolida como espaço de convivência, diálogo e formação sobre práticas culturais afro-brasileiras. Mãe Francys de Oyá, responsável pelo Kwe Oyá Sogy e pela Associação Papo de Mãe, afirma que o encontro reafirma valores comunitários e religiosos presentes na tradição afro-brasileira. Em sua avaliação, a ação contribui para ampliar a visibilidade de lideranças e praticantes dessas expressões culturais no Distrito Federal.

Com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, do Ministério da Cultura e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, o festival integra atividades que abordam aspectos simbólicos, históricos e sociais das religiões de matriz africana. A programação inclui oficinas culturais e gastronômicas, rodas de conversa, exposições, feira temática e apresentações artísticas. Para a organização, essas ações contribuem para aproximar o público da diversidade de práticas que compõem a formação cultural brasileira.

A proposta do evento é estimular a circulação de saberes tradicionais e fortalecer o sentimento de pertencimento entre participantes e grupos envolvidos na produção. O destaque à atuação de mulheres negras e de lideranças religiosas busca valorizar o papel dessas figuras na construção de narrativas próprias sobre identidade e resistência. Artistas, educadoras e integrantes de coletivos culturais compõem o conjunto de participantes desta edição.

Lavagem das águas

Entre as atividades previstas estão a Lavagem das Águas de Oxalá, ritual realizado na abertura dos dois dias de programação; a Feira Mística, onde são expostos produtos e serviços relacionados a tradições afro-brasileiras; e a Exposição Yabás, composta por trabalhos que representam aspectos simbólicos das divindades femininas. Oficinas de tranças, adereços, turbantes e culinária afro serão conduzidas por mulheres ligadas a práticas tradicionais.

As apresentações artísticas incluem grupos de percussão e atrações musicais. No sábado, o destaque é o grupo Xarxara de Prata, enquanto no domingo o encerramento fica a cargo do grupo Canto das Pretas. Roda de conversa com mães de santo, além de apresentações de percussão conduzidas por mestras da região, integram a programação dos dois dias.

As Yabás

O festival também destina espaço para a apresentação dos significados culturais das Yabás. Oxum, ligada às águas doces, é associada à fertilidade e às relações afetivas. Iemanjá, identificada como mãe de diversos Orixás, é relacionada aos oceanos. Iansã é ligada aos ventos e às tempestades. Nanã representa ancestralidade e ciclos de vida. Obá é vinculada à força e à estratégia. Ewá se relaciona aos mistérios e à vidência. A organização destaca que esses elementos simbólicos contribuem para o entendimento da função cultural das divindades dentro das tradições afro-brasileiras.

A idealizadora do evento, Mãe Francys de Oyá, atua há anos em projetos voltados ao fortalecimento da identidade negra e à transmissão de saberes de matriz africana no Distrito Federal. À frente do Kwe Oyá Sogy e da Associação Papo de Mãe, desenvolve ações que envolvem formação, acolhimento comunitário e valorização de práticas tradicionais. Sua atuação busca ampliar o reconhecimento de expressões culturais afrodescendentes e promover o respeito à liberdade religiosa.