Arte, espaço e memórias

Antonio Obá retorna à sua cidade natal, com a exposição Finca-Pé: Estórias da terra

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Por Reynaldo Rodrigues

Depois de passar pelo Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a exposição Finca-Pé: Estórias da terra, de Antonio Obá, chega ao CCBB Brasília, cidade natal do artista, e ficará aberta de 23 de setembro a 23 de novembro. Ao longo de sua itinerância, a mostra se aproxima dos 100 mil visitantes: foram 43.699 no CCBB Rio e 45.022 no CCBB BH, números que evidenciam a força do trabalho de Obá, reconhecido como um dos artistas mais relevantes da cena contemporânea brasileira. A entrada é gratuita.

Com mais de cinquenta trabalhos entre pinturas, desenhos, instalações e filme-performance, a exposição ganha em Brasília uma dimensão particular: o encontro entre a poética de Obá e o território que moldou sua sensibilidade. "Por mais que seja o mesmo corpo de trabalho, nunca é a mesma exposição. O espaço físico, a cidade, as pessoas, tudo transforma o encontro com as obras. Em Brasília, há um atravessamento inevitável: é o lugar de onde vim, onde está enterrado o meu umbigo, e essa volta é também um reconhecimento íntimo", afirma o artista.

Obá recorre ainda a um verso do poeta François Silvestre: "só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor da sua terra, a marca de sangue, seus mortos e a certeza da luta de seus vivos". O poema traduz reverência à terra natal como campo poético em constante transformação, sem nostalgia literal.

No percurso, obras como Ka'a pora (2024), 24 esculturas de pés em bronze com galhos, evocam a resistência e renovação do Cerrado. A série Crianças de Coral - nigredo/coivara (2024-2025) apresenta doze retratos em carvão sobre tela, densos e vibrantes entre presença e desaparecimento.