Luz! Som! Mulher!
Voltado para o público feminino, projeto capacita para parte técnica da produção artística
Uma iniciativa voltada à inclusão e à capacitação técnica de mulheres nos bastidores da cultura formou 60 novas profissionais no Distrito Federal. O projeto “Luz, Som e Ação”, promovido pela Guia Acessibilidade Inclusiva com apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), ofereceu cursos gratuitos de Roadie e Técnica de Iluminação para moradoras de 20 regiões administrativas do DF, incluindo mulheres com deficiência.
As aulas ocorreram entre os meses de abril e junho de 2025 no Instituto Federal de Brasília (IFB), no Recanto das Emas, e no projeto Jovem de Expressão, em Ceilândia.
A ação teve 116 mulheres inscritas e priorizou a formação de turmas exclusivas do gênero feminino, promovendo inserção profissional em áreas historicamente ocupadas por homens, como montagem de palco, operação de som e iluminação cênica. O objetivo foi contribuir para o fortalecimento da presença feminina no setor técnico de eventos e ampliar o acesso a oportunidades no mercado da economia criativa.
Segundo dados do projeto, a maior parte das participantes tinha entre 25 e 34 anos (53,4%). A maioria das alunas era residente de Ceilândia (19,8%) e Taguatinga (13,8%). Um total de 13,5% das participantes era composto por pessoas com deficiência, o que demandou medidas específicas de acessibilidade, como intérpretes de Libras, audiodescrição e materiais adaptados.
Abrir caminhos
Ellen Oliveira, idealizadora do projeto, afirmou que a iniciativa teve como foco principal oferecer uma formação técnica sólida e acessível, mas também atuar na quebra de estigmas sobre o lugar das mulheres nos bastidores da cultura. “Montar palco, operar luz ou som não é, e nunca foi, exclusividade de um grupo. Queremos abrir caminhos para talentos que historicamente foram deixados de fora”, declarou.
As aulas foram ministradas por profissionais com experiência no setor de eventos e cultura. Zizi Antunes, facilitadora do curso de Iluminação, ressaltou que a formação oferecida contribui para reduzir barreiras físicas e simbólicas enfrentadas por mulheres na área. “Há um estigma de que funções como montagem e operação de iluminação exigem força física incompatível com o corpo feminino, o que não é verdade. O curso mostrou que a técnica e a formação são os principais requisitos”, afirmou.
Durante os cursos, as alunas aprenderam noções teóricas e práticas sobre montagem de estrutura de palco, cabeamento, equipamentos de som e luz, operação de sistemas técnicos e medidas de segurança. As aulas também abordaram temas como direitos trabalhistas, empreendedorismo, ética profissional e inclusão.
Reconexão
Os depoimentos das alunas indicam que a formação teve impacto direto nas trajetórias pessoais e profissionais. Clara Lua, aluna do curso de Roadie, destacou o ambiente exclusivo para mulheres como fator decisivo para o aproveitamento das aulas. “Pela minha vontade, o curso teria mais aulas. Eu continuaria aprendendo. Foi importante ter esse espaço só para mulheres”, relatou.
Para Rafaela Xavier, a participação no curso serviu como ponto de reconexão com o próprio projeto de carreira. “Saí sabendo por onde começar a me inserir na área, e o ambiente só de mulheres foi fundamental para me sentir confiante”, disse. Já Mariana Aguiar, aluna da turma de Iluminação, afirmou que o curso transformou sua percepção sobre a técnica de luz. “Entrei sem nenhuma noção e hoje vejo a luz como uma ferramenta artística”, relatou.
O encerramento do projeto ocorreu no início de julho com a entrega de certificados e uma atividade prática de montagem de palco e iluminação, simulando um evento real. A organização do projeto afirmou que pretende buscar novos apoios para expandir a iniciativa e oferecer outras turmas futuramente.
O contexto do mercado cultural no Distrito Federal reforça a relevância da formação técnica promovida pelo projeto. De acordo com o Mapeamento da Indústria Criativa 2025, realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Brasília é hoje o maior polo de economia criativa fora do eixo Rio-São Paulo. Os setores analisados incluem audiovisual, música, artes cênicas, design e expressões culturais diversas.
Dados do Sebrae-DF apontam que o DF possui aproximadamente 130 mil trabalhadores formais na economia criativa, movimentando cerca de R$?10 bilhões por ano. Esse cenário aponta para uma crescente demanda por mão de obra especializada, inclusive nos bastidores técnicos. “Esse mercado aquecido demanda profissionais qualificados, e as alunas do Luz, Som e Ação estão prontas para ocupar esses espaços”, afirmou Ellen Oliveira.
Além do foco na formação profissional, o projeto teve como base o princípio da acessibilidade e da inclusão. A estrutura dos cursos contou com intérpretes de Libras, materiais pedagógicos acessíveis, audiodescrição em vídeos e espaços adaptados para alunas com deficiência física ou visual. A participação de mulheres com deficiência representou mais de 13% do total, e segundo a organização, os recursos de acessibilidade serão mantidos em futuras edições do projeto.
O projeto Luz, Som e Ação foi financiado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), vinculado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF. O FAC é considerado o principal mecanismo de fomento público à cultura na capital federal, com chamadas públicas voltadas a produtores, artistas, grupos culturais e iniciativas de formação.
Para a Guia Acessibilidade Inclusiva, organização responsável pelo projeto, a meta é ampliar a atuação em formações voltadas a públicos sub-representados. A instituição planeja desenvolver outras formações técnicas e criativas, com foco em diversidade e inclusão no mercado cultural do DF.