Deuses ou astronautas?
Romance de estreia de Bruno Lago propõe releitura futurista do "descobrimento" da Terra
O romance “O Descobrimento da Terra”, do escritor Bruno Lago, chega às livrarias em sua versão impressa após alcançar repercussão na edição digital. Publicado pela Editora Tagore, o livro estará em pré-venda nos meses de junho e julho e marca o início de uma série de ficção científica com temática distópica.
No centro da narrativa está a chegada de seres interestelares à Terra, interpretados pelos habitantes do planeta como figuras divinas. A escolha da linguagem e do cenário remete diretamente aos relatos das Grandes Navegações do século 16. A comparação com a famosa carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500 ao rei de Portugal, é explícita desde o início do livro, com a reprodução de trechos estilisticamente similares ao do documento histórico.
A pré-venda está disponível através do site Escritores Brasileiros, pelo link https://www.escritoresbrasileiros.com.br/brasilia/o-descobrimento-da-terra?parceiro=9825. Os primeiros exemplares vendidos serão entregues com autográfo do escritor, além de ter envio prioritário e desconto na hora do pagamento.
Divindades
O romance parte da premissa de que, assim como indígenas e africanos foram tratados como inferiores durante os processos colonizatórios europeus, agora são os humanos que recebem seres de outro mundo e os tratam como entidades superiores. Os visitantes são descritos como figuras douradas, com asas imensas, que se apresentam como enviados divinos. A reação inicial da população da Terra é de veneração. A história acompanha, então, a evolução das percepções sobre esses visitantes e as consequências dessa relação de submissão.
Cada capítulo é narrado por um personagem diferente da cidade fictícia onde a história se passa. Ao todo, são sete protagonistas que oferecem múltiplos pontos de vista sobre os acontecimentos. A proposta do autor é retratar a diversidade de reações diante da presença dos seres interestelares e expor contradições sociais, políticas e religiosas.
Bruno Lago afirma que a inspiração para o enredo veio de uma releitura futurista do processo de colonização. Segundo ele, o livro propõe uma crítica à adoração por falsos messias, ao fanatismo religioso e ao uso da fé para fins políticos. O autor também menciona que a ideia inicial surgiu a partir da análise de como povos do passado, ao depararem com o desconhecido, interpretaram esses encontros por meio de suas crenças religiosas.
Inspirações
Na obra, a figura do “capitão-mor” remete aos comandantes das expedições marítimas, mas desta vez é um alienígena que relata, em linguagem formal e documentos de tom oficial, o que observa na Terra. Os humanos, por sua vez, reagem com fascínio e devoção aos seres que se apresentam como emissários de algo superior.
A abordagem de Bruno Lago atualiza discussões sobre o que se entende por civilização, progresso e espiritualidade. A presença de referências históricas ao “descobrimento” do Brasil serve de estrutura para levantar questões contemporâneas. O autor propõe uma crítica à forma como, no presente, sociedades ainda elegem líderes carismáticos e figuras religiosas sem questionamento, muitas vezes em nome da salvação ou de promessas de redenção.
Além das questões de fé, o romance também aborda temas como poder, dominação e desigualdade. A Terra descrita na obra é marcada por contrastes sociais e políticos que se acentuam com a chegada dos visitantes. A estrutura narrativa em múltiplos pontos de vista busca evidenciar como diferentes setores da sociedade reagem a um mesmo evento, revelando conflitos internos, crenças e motivações pessoais.
A linguagem do livro mistura elementos clássicos e contemporâneos. Há uma proposta de paralelismo entre os relatos coloniais e os relatórios interestelares, como se a história estivesse se repetindo em outro tempo e sob novas formas. Os visitantes observam os humanos com curiosidade e certo distanciamento, da mesma forma como os colonizadores do passado registravam suas impressões sobre os povos nativos.
A recepção crítica ao livro em sua versão digital incluiu análises de blogs literários como o “Diário Literário da Lu” e o “Fata Morgana Books”, que destacaram a estrutura narrativa e os questionamentos éticos apresentados. Uma das observações recorrentes é o uso da ficção científica como ferramenta para crítica social. O livro é descrito por esses leitores como uma obra que, embora ambientada no futuro, faz referência direta a problemas contemporâneos, como a manipulação ideológica, o fanatismo e a busca por líderes absolutos.
Ponto de partida
Bruno Lago relata que a construção do romance levou alguns anos e que o ponto de partida foi justamente o desejo de inverter a lógica do “descobrimento”. Em vez de naves europeias chegando a novas terras, são agora os humanos que recebem visitantes do espaço e os consideram salvadores. A inversão, segundo o autor, permite refletir sobre a repetição de comportamentos históricos em contextos distintos.
A Editora Tagore, responsável pela publicação, planeja expandir a série com novos volumes. O primeiro livro estabelece o universo ficcional e apresenta os principais conflitos, que serão desenvolvidos nos próximos títulos. Ainda não há uma data oficial para o lançamento das continuações.
“O Descobrimento da Terra” insere-se em uma tradição literária que utiliza o gênero distópico para explorar relações de poder e identidade. Ao propor uma analogia entre colonização histórica e contato interplanetário, o livro convida o leitor a reavaliar narrativas sobre o passado e refletir sobre os caminhos do presente.
A obra propõe, portanto, não apenas um exercício de imaginação, mas também uma revisão crítica de valores e estruturas sociais. Por meio da ficção, Bruno Lago traz à tona questões sobre como sociedades se organizam em torno de símbolos, crenças e lideranças e quais são as consequências dessas escolhas.