Essa obra não é de Oscar Niemeyer

Polêmica envolve escutura de artista em local que homenageia o arquiteto

Por Thamiris de Azevedo

A escultura não tem autorização para permanecer no local

Uma escultura que está instalada no Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos Três Poderes, logo após a Esplanada dos Ministérios, tem gerado polêmica e discussão. A denúncia sobre a obra foi trazida ao Correio da Manhã pela coordenadora do movimento Guardiões de Brasília Patrimônio da Humanidade, Leiliane Rebouças. Segundo ela, a obra está descaracterizando um local tombado de forma irregular.

De acordo com Leiliane, a escultura colocada no local sem autorização abre um precedente perigoso para que outras pessoas interfiram em área tombada.

“Essa obra interfere na concepção espacial original deste lugar, porque a arquitetura de Oscar Niemeyer é pensada em conjunto. Os vazios e as áreas preenchidas formam uma unidade estética. Então, essa escultura altera o eixo visual previsto por Niemeyer, interrompendo a relação entre o prédio e o espaço aberto”, avalia.

Doação

O artista plástico responsável pela obra é Rogério Reis. À reportagem, ele conta que a escultura foi instalada durante a exposição “Brasília III Milênio”, em 2022. Para ele, a obra não é apenas estética, mas o resultado de dez anos de pesquisa em forma de manifestação. Reis afirma que, ao fim da exposição, decidiu doar a escultura ao Governo do Distrito Federal.

“Fiz uma ponderação pedindo que, se pudesse, ela ficasse no EON (Espaço Oscar Niemeyer). Mas também disse que, caso não fosse possível, gostaria que ela fosse para o MAB (Museu de Arte de Brasília)”, diz.

O artista mostrou ao Correio um e-mail enviado ao secretário de Cultura do DF, Cláudio Abrantes, solicitando a formalização da doação mas, segundo ele, não encontrou registro do ofício que encerraria o contrato.

Não aceitou

Em entrevista ao Correio da Manhã, o subsecretário do Patrimônio Cultural, Felipe Ramón, nega que o Governo do DF tenha aceitado a doação. Ramón informa que Rogério foi notificado, mas resistiu.

“O artista foi notificado pelo menos três vezes por meio de expedientes formais. Além disso, houve diversos contatos por mensagens, ligações e pessoalmente, todos reiterando a necessidade de retirada da obra, com diversas testemunhas. Entretanto, ele se recusa a retirar seu bem. A autorização para permanecer no local se limitava exclusivamente ao período da mostra. Após o término da exposição, a permanência deixou de ter respaldo institucional e passou a configurar ocupação indevida”, explica.

Questionado se a Secretaria tinha poder para retirar a obra diante das negativas do artista, o subsecretário afirma que a pasta dispõe de poder para cessar a ocupação irregular em área tombada.

“Como o artista se recusa a retirar sua obra, ela será removida pela pasta da maneira que for possível, para um local ainda a ser definido”, afirma.