DF lança IA com serviços para saúde mental
Ferramenta não é indicada para substituir acompanhamento clínico
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal lançou a SAMia, uma Inteligência Artificial que disponibiliza recursos de acolhimento e orientações iniciais sobre fluxo de assistência em saúde mental. O sistema pode ser acessado pelo samia.app.br/chat.
Ao Correio da Manhã, a pasta esclarece que a SAMia é uma IA fechada, construída exclusivamente, durante nove meses, com conteúdos por uma equipe técnica composta por psiquiatras, psicólogos, neuropsicólogos e especialistas em segurança do paciente.
Como funciona
A reportagem acessou o aplicativo e verificou que, ao clicar na análise individual e responder a diversos tipos de questionários, o usuário recebe uma resposta automatizada com análise de perfil, que também indica a necessidade de atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima ou orienta o acionamento do Samu.
Além da análise pessoal, a plataforma também oferece a opção de avaliação de terceiros, ocasião em que o usuário seleciona quadros como suspeita de autismo, violência doméstica ou sexual, problema com jogos e comportamentos de agitação, com o objetivo de auxiliar sobre quando buscar ajuda profissional.
Dentro do ambiente digital, há o programa “30 dias de felicidade”. O personagem virtual acompanha a jornada do perfil que se compromete a realizar diariamente atividades comportamentais envolvendo mindfulness, relacionamento, autocuidado, criatividade, aprendizado e ações de gratidão. Ao final, o usuário faz um planejamento para o futuro.
O sistema também permite um bate-papo para, segundo a própria plataforma, ouvir o usuário sem julgamento.
O jornal prosseguiu com a conversa para verificar as alternativas. A SAMia pergunta ao usuário se ele quer apenas desabafar ou indicações de ajuda. Ao desabafar, a IA destaca que a pessoa não está sozinha e recomenda exercícios de respiração e relaxamento. Durante todo o processo, o recurso esclarece que não substitui diagnóstico, consulta médica ou avaliação psicossocial.
Em entrevista ao Correio da Manhã, o psicólogo Gilberto Costa reconhece a importância do aplicativo, mas ressalta o cuidado com a função de “desabafo”.
“A ideia de ter um aplicativo que auxilie na hipótese, na investigação, e na avaliação criteriosa de boa parte dos espectros envolvendo as condições de saúde mental é muito importante, porque afinal de contas, dentro das políticas de saúde mental nós temos poucos instrumentos ou quase nenhum que faz esse tipo de avaliação. Mas é preciso cuidado com a lógica do desabafo. Não se pode tirar a lógica do encontro na saúde mental. Um desabafo não é só um desabafo. Em um desabafo há entrelinhas que devem ser humanizadas. A população precisa ter cuidado com esse cuidado virtual. Nunca podemos substituir o espaço do encontro humano, da existência e do fenômeno da angústia e do sofrimento contactado com outro ser humano”, avalia.
