UnB desenvolve chip que simula órgãos humanos

Ferramenta pretende contribuir com a diminuição de "cobaias" animais

Por Thamiris de Azevedo

Microambiente do ChipEny simula funcionamento de órgãos humanos

O Correio da Manhã já mostrou, em matéria anterior, como o Rapha, equipamento criado por um grupo de Engenharia Biomédica da Universidade de Brasília (UnB), acelera a cicatrização de feridas, especialmente as do pé diabético. Agora, o mesmo grupo avança nessa linha de pesquisa com o desenvolvimento do ChipEny, que permite estudar as proteínas do látex usadas no Rapha sem recorrer a testes pré-clínicos em animais, simulando estruturas e funções de órgãos e tecidos humanos.

Em entrevista ao Correio, o professor Mário Rosa, um dos pesquisadores responsáveis, explica que o Rapha promove a regeneração tecidual por meio do látex associada a um emissor de luz LED. Segundo ele, após concluir o ciclo completo desse desenvolvimento científico, com a disponibilidade do produto, a equipe decidiu usar o conhecimento acumulado para evoluir a pesquisa. “A lâmina de látex contém microelementos, inclusive proteínas que interagem com o tecido durante a regeneração. Identificamos a oportunidade de desenvolver um chip capaz de testar as proteínas do material em ambientes simulados, evitando o uso de modelos animais”, informa.

O especialista explica que a tecnologia organ-on-a-chip já existe há anos, mas o diferencial é a nacionalização da ferramenta. “A UnB produziu um chip brasileiro, já patenteado, que laboratórios podem adquirir sem depender de importações”, declara.

Rosa afirma que o objetivo é ampliar o impacto social da pesquisa. “O ChipEny segue a mesma lógica de acessibilidade do Rapha. É um produto de baixa complexidade tecnológica e custo reduzido.”

Ele adiantou ao jornal que o Rapha deve ser incorporado pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) em breve.

Como funciona

O ChipEny reproduz, em microescala, ambientes semelhantes a vasos sanguíneos. Rosa explica que isso abre portas para diversas áreas. “Na oncologia, permite observar como tumores formam novos vasos. Na cardiologia, ajuda a estudar regeneração após infartos”, cita.

Para visualizar o funcionamento, o professor sugere imaginar “uma caixinha muito pequena com microcanais”. Dentro dela, são colocadas células do tecido estudado e as moléculas do tratamento analisado. O chip é conectado a uma bomba de infusão que circula um líquido, simulando o fluxo sanguíneo. Esse ambiente permite avaliar reações biológicas sem o uso de animais, etapa que antecede os testes clínicos em humanos que, após comprovado, analisa a eficácia.

Ele ressalta que o avanço da pesquisa só foi possível graças ao apoio da Fundação de Apoio á Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e dos recursos de emendas parlamentares. “É preciso lembrar que isso é investimento científico que retorna para a sociedade”, destaca.