Na linha das reportagens do Correio da Manhã, relatórios entregues à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do rio Melchior confirmaram os excessos de efluentes e omissão legislativa, na opinião dos especialistas, em relação aos resíduos químicos despejados pelas Estações de Tratamento de Esgoto do Melchior, que acabam chegando aos poços das comunidades que moram na proximidade das águas.
No relatório produzido pelo Laboratório de Limonogia “AquaRiparia” da Universidade de Brasília (UnB), ao qual a reportagem teve acesso, os dados apontam que os níveis de fósforo têm valores exuberantes, de 79,7 e 91,8 mg/L, onde para classe 3 o limite é de 0,15 mg/L, correspondendo cerca de 531 a 612 vezes maior ao máximo permitido no enquadramento citado. O professor responsável pelo laboratório, José Francisco Gonçalves, explica ao jornal que o documento se refere ao quantitativo de classe 3 para que seja possível uma análise interpretativa uma vez que, segundo ele, a legislação é omissa em relação aos limites da classe 4, ao qual se enquadra as águas do rio. O especialista alerta que os efluentes quando jogados deixam o Melchior com quase as mesmas características da água do esgoto.
“Considerando que o efluente da Caesb é uma vez e meia para mais da vazão do rio, é como entrasse é um ‘outro Melchior’ após a junção do efluente da Caesb, quando o Melchior passa a ter praticamente as mesmas características físicas e químicas da água do efluente. A gente observa que o tratamento não retira fósforo e não retira amônia do ponto em que nós coletamos, o que leva a um aumento desses componentes no rio. Isso precisa ser investigado”, avalia Gonçalves.
No outro relatório, entregue pela Secretaria de Saúde, a Pasta confirmou que a comunidade que mora nas proximidades das águas está consumindo água contaminada e, consequentemente, adoecendo. A situação foi denunciada pelo Correio da Manhã em junho. A reportagem tentou acesso a este documento, mas a CPI respondeu que está em sigilo.
Conforme anunciado anteriormente com exclusividade pelo Correio, a Caesb informou, mais uma vez, que obras estão sendo realizadas na ETE Melchior. A pretensão é reverter a classe do rio, que atualmente encontra-se na classe 4, a pior na classificação hídrica, para a classe 3. Em nota à reportagem, a Companhia informa que fase de polimento final já se encontra em execução e as demais deverão ser licitadas no decorrer deste ano.
Adiamento
A presidente da CPI, deputada Paula Belmonte (Cidadania) anunciou que a CPI do Rio Melchior que tinha previsão para ser finalizada em 180 dias a contar do início das sessões, em fevereiro, está oficialmente adiada até o dia 18 de dezembro para analisar os materiais em investigação. A prorrogação pode ser de 90 dias, o que significa que, se julgado necessário, pode acabar em março de 2026.