Por: Thamiris de Azevedo

Desarticulada produção de alucinógenos no DF

Produção e distribuição aconteciam em nível nacional | Foto: Divulgação PCDF

A Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou a “Operação Psicose”, que resultou na desarticulação de uma rede criminosa responsável pela produção, comercialização e distribuição da psilocibina, substância presente em cogumelos alucinógenos, com alcance em todo o território nacional. Além do tráfico de drogas, o grupo é investigado por crimes ambientais, contra a saúde pública e por lavagem de dinheiro.

Segundo o órgão, a operação teve início este ano a partir de um minucioso trabalho de vigilância cibernética em redes e plataformas digitais que publicitavam e comercializavam os produtos. Os interessados eram direcionados para um grupo de WhatsApp e para uma plataforma de vendas online, considerada pelos agentes como “profissional”, com interface intuitiva e recursos semelhantes aos de grandes sites de comércio eletrônico, incluindo catálogo de produtos, fotos em alta qualidade e descrições detalhadas. Nessa plataforma, o cliente podia escolher, de forma organizada, entre uma variedade de cogumelos alucinógenos, diferenciados por espécie, forma de preparo e potência.

Ainda, durante a investigação os Correios, atuando em conjunto com a Receita Federal, efetuaram a identificação e interceptação de remessas ilícitas de cogumelos alucinógenos no centro de distribuição. O material foi encaminhado à Polícia Civil do DF que identificou se tratar de material oriundo do esquema investigado na operação.

A apuração policial também identificou centros de produção e distribuição em Curitiba, Santa Catarina e em São Paulo, todos ligados ao esquema do DF. O tráfico movimentou cerca de R$ 26,5 milhões entre 2024 e 2025, com base na venda de aproximadamente 1.329 quilos do produto, comercializado a R$ 60 por dose de três gramas.

Polêmica

O Correio da Manhã apurou que a operação gerou dúvidas sobre a ilegalidade dos chamados “cogumelos mágicos”. Para esclarecer, a reportagem conversou com a advogada criminalista Pollyana Cruz, que explicou que, no Brasil, o cultivo de cogumelos alucinógenos, como o Psilocybe cubensis, é considerado crime, embora, segundo Cruz, ainda que exista alguma zona polêmica de interpretação.

“A Lei de Drogas criminaliza quem semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de drogas e das substâncias psilocibina e psilocina, presentes nesses cogumelos. Elas estão listadas como entorpecentes proibidos pela Anvisa. Embora o cogumelo em si não esteja explicitamente proibido, a jurisprudência majoritária entende que o cultivo configura crime, pois tem como finalidade a produção de substâncias ilícitas”, afirma a advogada.

Quanto ao consumo, a especialista reforça que segue a mesma linha, sendo considerado ilícito. Pollyana informa que não há exceções legais para o uso desses cogumelos no Brasil, seja para fins religiosos ou terapêuticos, diferentemente de outras plantas enteógenas, como a ayahuasca, cuja utilização ritualística foi autorizada.