Após as denúncias recebidas pelo Correio da Manhã, feitas por familiares e amigos, sobre violações de direitos humanos no sistema penitenciário e mortes “misteriosas” de internos, a reportagem segue apurando os casos. Na última semana, mais uma morte foi registrada, confirmada pela própria Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape), quando procurada pelo Correio da Manhã. A pasta também informou que, entre janeiro de 2024 e setembro de 2025, foram registrados 56 óbitos de custodiados sob escolta, sendo que 20 ainda estão com a causa da morte em apuração.
“Ressalta-se que os registros da Seape/DF consideram a causa médica da morte, utilizada para fins de certidão de óbito civil, exemplo: infarto, choque séptico, insuficiência respiratória etc. A definição da causa jurídica ou pericial – se o óbito decorreu de suicídio, homicídio ou morte natural – é de competência da Polícia Judiciária e da Justiça, a partir das investigações e laudos periciais. A Pasta confirma que na manhã deste último sábado (30/08), a custodiada K.A (Nome Social) C.H.S.A (Reg. Civil), de 25 anos, foi encontrada sem vida com uma corda artesanal enrolada no pescoço na cela da ala destinada ao público LGBTQIAPN+ da Penitenciária I do Distrito Federal. Ao encontrar o cenário, Policiais Penais do Plantão da Unidade chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU que constatou o óbito com a suspeita de autoextermínio”, diz a íntegra da nota sobre a primeira morte.
“A Seape confirma que, no dia 2 de setembro de 2025, por volta das 18h50, a custodiada S. A. S. (registro civil: C. A. S.) foi encontrada em uma cela da Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF) com uma corda artesanal enrolada no pescoço. Imediatamente, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado e constatou o óbito. A perícia da Polícia Civil foi realizada e a ocorrência foi registrada na 20ª delegacia do Gama”, afirma sobre o segundo óbito.
Relatório
No primeiro semestre deste ano, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal recebeu um total de 292 demandas relacionadas ao sistema prisional. De acordo com o relatório divulgado, as ocorrências mais frequentes dizem respeito a maus-tratos e violência, que somam 108 registros, o equivalente a 37% do total. Em seguida, aparecem as reclamações sobre a alimentação, com 58 casos, representando 20%. As questões relacionadas às visitas vêm logo depois, com 54 ocorrências, correspondendo a 18% das demandas.
O presidente da comissão, deputado Fábio Félix (Psol), afirmou estar ciente dos últimos fatos e que estão em diálogo com as famílias.
Isolamento
Em agosto, a família de Jhully Ariele procurou a reportagem para denunciar que não estava conseguindo se comunicar com a interna. A penitenciária alegava que Jhully estava em isolamento, no chamado “castigo”. O Correio voltou a ser procurado pela avó da apenada, que prefere não se identificar. Na ocasião, ela afirmou que Jhully continua em isolamento até hoje, tendo sido vista dentro da cela apenas uma única vez, na última quinta-feira (28).
“Preciso saber notícias da Jhully”, ressalta a avó da detenta.
B.D., que prefere não se identificar, esteve presa por um ano e quatro meses na ala LGBTQIAPN+ do presídio feminino Colmeia. Em entrevista ao jornal, ela afirma que todas as denúncias de transfobia e maus-tratos são verdadeiras. Relata que mulheres trans são agredidas e colocadas em isolamento, permanecendo meses sem direito a visitas. B.D. também denuncia a ausência de assistência médica e psicológica adequada às detentas. Segundo ela, algumas chegam a cometer suicídio, enquanto outras "desaparecem".