Rio Melchior não tem vazão para resfriar termelétrica, admite Ibama

Às vésperas de audiência, analista expõe problemas em CPI da CLDF

Por Thamiris de Azevedo

Técnico do Ibama apresentou vários problemas relativos à usina

A poucos dias da Audiência Pública que discutirá a possível instalação de uma usina termelétrica em Brasília, a 7ª reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Rio Melchior ouviu o analista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Breno da Silva. E ele produziu um forte revés para as pretensões de quem deseja instalar a usina. O projeto em análise prevê a captação de 110m³/h das águas do rio para resfriar a termelétrica. Breno foi taxativo: o rio não tem vazão para isso.

Inicialmente, o especialista explicou o que significa o licenciamento do Ibama a respeito da usina. Segundo ele, é um procedimento administrativo para verificar os impactos ambientais com a missão de desenvolver programas sustentáveis que mitiguem os malefícios no meio físico, biótico e social. Segundo ele, seis técnicos do instituto estão fazendo os estudos e verificando a documentação apresentada pela empresa responsável, Termo Norte, a respeito da usina.

Após uma série de explicações do analista, a presidente da CPI, Paula Belmonte (Cidadania), retomou uma pergunta anterior, questionando categoricamente: “Hoje, a vazão de água do rio é suficiente para a Termelétrica?”. O representante do Ibama respondeu de forma monossilábica: “Não”.

Após alguns segundos de silêncio no plenário, a sessão prosseguiu. Em seguida, o analista esclareceu que, em determinados períodos do ano, a demanda hídrica do equipamento supera a quantidade de água disponível no rio.

Novamente, Belmonte insistiu “Se retira uma quantidade de água e não devolve a mesma quantidade de água, considerando a vazão, isso nos traz uma preocupação ainda maior”. E o representante do Ibama apenas concordou novamente de forma monossilábica: “Sim”.

O deputado e relator da CPI, Iolando (MDB), por sua vez, defendeu que, se os problemas forem devidamente mitigados, a usina termelétrica poderá, em sua avaliação, trazer benefícios ao Distrito Federal, como a geração de empregos e de energia.

Outorgas

O deputado Gabriel Magno (PT) perguntou para o especialista se, diante da cassação das outorgas da Adasa, que foram desautorizadas por decisão judicial, o projeto da termelétrica ainda se manteria viável. Breno da Silva respondeu que, sem as outorgas da Adasa, o Ibama não poderá emitir a licença.

Paula Belmonte, também informou, em plenário, que na visita técnica que ela realizou na Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), constatou-se que os elementos despejados pelo órgão são três vezes maiores que o tamanho do rio.

A presidente também anunciou que foi identificado mais um local com alto volume de lixo nas águas. A legalidade desse despejo será investigada mais a fundo.